Pplware

Análise Total War: Shogun 2!

Já desde o lançamento do primeiro jogo da série, Shogun: Total War no final da longínqua década de 90, que poucos títulos de estratégia ousaram equiparar-se-lhe, e muitos menos o conseguiram de forma minimamente razoável. A saga Total War é um universo à parte e, desde sempre se notabilizou por ser um título sério e maduro em todos os seus aspectos não tendo medo de arriscar e de se reinventar.

Shogun 2 é uma espécie de regresso ao passado. O Japão feudal, terreno nosso conhecido apresenta-nos em Shogun 2 como se duma lembrança incerta se tratasse. Shogun 2 não é um mero voltar ao passado, mas sim, um reescrever o passado.

Numa altura conturbada da história nipónica, cabe-nos a nós levar o nosso clã ao sucesso, e o sucesso passa invariavelmente por nos tornarmos Shoguns do Japão. Seja através do simples poderio militar, de intrincadas redes de alianças, de conspirações, … tudo vale para o derradeiro objectivo que é o de unificar a Ilha do Sol Nascente sob o nosso estandarte.

Será que Shogun 2 consegue elevar bem alto esse estandarte?

Gráficos – 9,2

Shogun 2, à semelhança dos títulos anteriores da série, apresenta-nos com dois mapas distintos: mapa estratégico por turnos e mapa de combate em tempo real.

No mapa estratégico centramos toda a nossa macroestratégia e é onde controlamos o nosso império. Desde os territórios em nosso poder, às nossas forças espalhadas pelo território, ao comércio … é neste mapa que se centra toda essa componente de gestão.

A Creative Assembly teve um excelente trabalho ao, não só conseguir manter o mapa estratégico familiar para quem já joga Total War, mas ao mesmo tempo de lhe introduzir novidades que o conseguem levar a um completo outro nível. O detalhe do mapa estratégico está simplesmente impressionante, desde as unidades que representam os nossos exércitos, às cidades, aos edifícios construídos pelo território, às caravanas de comércio, à paisagem…. é uma paisagem que respira e transpira vida e sensação de acção e com um detalhe bastante bom. A presença das 4 estações do ano e dos seus efeitos visuais na paisagem e na estratégia (ver mais à frente) torna-se automaticamente parte integrante do jogo e ajuda-nos a lembrar que o relógio não pára.

Um pormenor bastante interessante e que fica muito bem no jogo, é a representação de terrenos desconhecidos no mapa estratégico, que até os revelarmos com alguma unidade se encontram identificados como uma espécie de mapa desenhado à mão num papiro.

Se o mapa estratégico corresponde a uma entrada bem refinada, então o mapa de combate apresenta-se como um valente sushi da mais fina categoria.

Aqui é onde se desenrola toda a acção dos combates e onde, o jogador também terá de pensar bem a sua estratégia para cada confronto.

Os cenários estão incrivelmente detalhados, com rios, árvores, habitações, espalhadas pelo cenário por onde avançam as nossas tropas com um detalhe ainda mais impressionantes.

É uma honra poder assistir a uma formação das nossas melhores tropas antes, durante e depois do combate. Cada unidade dentro da sua formação continua a ter um comportamento próprio e apenas há a indicar negativamente que as caras se repetem muito.

As diferentes estações do ano encontram-se tremendamente bem traduzidas para os cenários de combate e acabam por conseguir imergir o jogador ainda mais no jogo.

Quando o combate tem o seu inicio é assombroso ver tudo o que se desenrola à nossa volta. Os arqueiros a lançarem as suas setas de fogo, a cavalaria a destroçar formações de arqueiros, a infantaria a desbaratar a cavalaria, os defensores dos castelos nas muralhas a lançarem enxames de setas sobre os invasores … cada combate é simplesmente avassalador …

Até pormenores como cavalos a fugirem do meio da luta, já sem os seus cavaleiros, ou cavaleiros a serem lançados pelo ar ao serem atingidos pelas forças defensiva, ver soldados e armas espalhadas pelo campo à medida que uma formação avança sobre posição defensiva … a atenção ao pormenor foi grande em Shogun 2 e é sem, dúvida uma guerra ganha.

Talvez um pormenor que com Shogun 2 pudesse começar a aparecer seria a existência de mais vida nos campos, ou mesmo nos castelos, uma vez que em grande maioria dos casos apenas os soldados se movem neles.

Tudo isto em terra, mas no mar as coisas mantém-se a este nível extremamente elevado. As trocas de setas antes das manobras de abalroamento são novamente dignas de se verem e dá orgulho combater em Shogun 2.

Som – 8,9

O som em Shogun 2 acompanha a qualidade do resto do jogo. A banda sonora acompanha o jogo e ajuda a criar o ambiente, nunca se tornando demasiado intrusiva ou alienígena.

Os efeitos sonoros das batalhas estão bastante bons. O clash quando duas formações se encontram no terreno de batalha é um pouco o que se poderia esperar e juntamente com os restantes ingredientes deste magnifico jogo, ajudam a fazer com que cada combate seja diferente e altamente imersivo.

Em pleno palco de combates as tropas falam na sua língua natal, e é comum ouvir comandos e observações em japonês, o que é também interessante, mas que nos deixa a pensar no que será que realmente se estará a passar.

Um pormenor muito bem conseguido são as sequências de animação antes dos combates nas quais somos transportados para um discurso inflamado e moralizador às tropas, muito ao género do discurso de William Wallace em Braveheart!

Um pormenor que desgostei um pouco prende-se com algumas narrativas que antecedem alguns cenários. Nota-se que há ali uma tentativa de reprodução dum japonês a falar inglês mas, muito sinceramente, ainda se torna mais evidente de que se trata dum inglês a tentar falar como um japonês em inglês.

Jogabilidade – 9,4

Shogun 2 é um assombro. 60 Províncias do Japão espalhadas pelo mapa e nós somos uma delas. Alianças, traições, casamentos, assassinatos, conquistas … enfim são tudo ferramentas à nossa disposição para atingir Kyoto e nos tornarmos em Shogun.

É incrível como a Creative Assembly tem conseguido vir a, não só manter, como aumentar o grau de excelência da série Total War, e este Shogun 2 é a prova disso mesmo.

Uma coisa que convém ser realçada e que acho que tanto pode ser uma mais-valia como uma vantagem é que o jogo não é imediato na sua aprendizagem. Para os veteranos da série Total War as novidades não apanham ninguém de surpresa e é mais uma questão de fazer um Update aos conhecimentos adquiridos, ao invés que para os novos nestas andanças o impacto é maciço. De qualquer forma, essa também pode ser encarada como uma mais-valia, pois ultrapassadas as primeiras horas de assimilação então o jogo mostra todo o seu poder e esplendor e torna-se numa experiência altamente gratificante.

Com já acima indiquei, o jogo apresenta as 4 estações do ano, havendo 4 turnos por ano para as poder representar, e isso afecta e de que forma a nossa estratégia. Por exemplo, no Inverno é extremamente complicado encetar grandes ofensivas. O terreno está mais pesado tornando os soldados mais cansados à medida que avançam, a visibilidade é má colocando as nossas tropas sujeitas a emboscadas, as setas incendiárias não surtem efeito …no entanto, o adversário pode estar mais relaxado nesta altura também fazendo dela o dia D da nossa campanha. Enfim estes são os tipos de meditação que terão de ser feitas durante Shogun 2.

E falando da IA, o que dizer dela? Simplesmente que está ainda mais espevitada. Por exemplo se nós colocamos os arqueiros dum lado da nossa formação então a IA coloca a cavalaria nos extremos da dela para nos poder fazer ataques laterais e de envolvência. Ou se atacamos com infantaria, os arqueiros inimigos recebem-nos com salvas de setas umas atrás de outras antes de retirarem e deixarem o resto do combate para a sua infantaria ou cavalaria. Houve novamente aqui, um grande trabalho de melhoria da IA do jogo, continuando a haver no entanto os eternos problemas de pathfinding onde por vezes soldados nossos correm para a morte certa como os lemingues.

As opções de pausa e acelerar o tempo nos combates em realtime podem-se tornar opções vitais no terreno de batalha, dado o imenso rol de eventos a acontecerem em simultâneo e a necessidade de por vezes pensar um pouco no calor da batalha.

Além do combate também a vertente económica tem um papel importante na nossa aventura. Convém ter uma estrutura equilibrada nas nossas cidades e territórios e uma forte orientação nas pesquisas a fazer de forma a conseguirmos manter o equilíbrio entre um exército sedento de guerra e uma população que o alimenta e faz prosperar as nossas cidades. Cada província pode ter um número limite de edifícios, o que faz com que estes tenham de ser bem escolhidos na altura da sua construção.

Além disto é possível proceder transacções comerciais com outras nações, incluindo europeias que fazem entrar no país as controversas, armas de fogo e religião cristã que pode incendiar uma província no confronto com as religiões nativas.

A diplomacia continua presente e agora não apenas com os líderes das restantes províncias. Em Shogun 2 os nossos generais têm também de ser observados para que a sua lealdade se mantenha para connosco, e assim sendo de vez em quando alguns privilégios adicionais ser-lhes-ão dados para tal.

A quantidade de informação disponível nos diversos ecrãs de jogo é estonteante. Em qualquer altura do jogo temos à distância de passar o cursor do rato sobre algo a possibilidade de ver um resumo sobre isso… seja uma formação, um edifício, um exército,….

A Enciclopédia que acompanha o jogo poderia perfeitamente ser um livro à venda da Reader’s Digests, por exemplo, de tão completa e detalhada que se apresenta. É um apoio deveras importante, nomeadamente quando investigamos qual o próximo research a fazer, ou qual o próximo edifício a construir.

Longevidade – 9,2

A vertente singleplayer tem pano para mangas, e só por si é suficiente para entreter o jogador até ao próximo Total War, seja pelo tamanho da campanha, seja pelo vicio de voltar a jogar com outra facção.

No entanto, uma, senão a grande aposta em Shogun 2 é, claramente, na vertente multiplayer. A existência duma campanha multiplayer online onde podemos jogar com amigos e ir gravando é também só por si um motivo para prolongar a estadia de Shogun 2 no nosso PC, mas o aparecimento dum novo conceito, Avatar Conquest torna as coisas ainda mais interessantes. Este novo modo leva-nos a um mundo persistente online onde somos um líder dum clã japonês, e que através de variados combates contra outros jogadores nos permite ganhar experiência e aumentar o nosso poderio militar.

Nota Final – 9,2

Eu bem sei que esta análise se estendeu um pouco e sinceramente não queria ter falado tão extensivamente de Shogun 2, mas acreditem-me …foi completamente impossível. O jogo encontra-se absolutamente recomendável para consumo. Não só para os amantes da série Total War, mas para todos os jogadores que gostam de estratégia, em particular os que gostam de macro e micro estratégia. No entanto, Shogun 2 é um jogo deliciosamente traiçoeiro. É um jogo que nos seduz, deixa-nos dar os primeiros beijos, mas logo a seguir nos grita para parar e quando pensávamos que já o tínhamos conquistado, dá-nos dois pares de estalos e coloca-nos novamente na estaca zero. É um jogo exigente que para os novatos, merece a pena levar esses dois estalos, pois depois quando se chega à altura de fazer o amor, é brilhante.

Por tudo isto e mais algumas coisas que ficaram por dizer este é um jogo que recomendo vivamente e respondendo à pergunta inicial:

Shogun 2 consegue elevar o seu estandarte alto, tão alto que quase toca o Sol (Nascente).


Género: Estratégia
Plataforma Análise: PC
Homepage Total War: Shogun 2

Requisitos:

Exit mobile version