Em 2012 a Japan Studios lançou Tokyo Jungle, um jogo que ao início era, no mínimo, intrigante mas que, conforme o Pplware pôde aqui comprovar, se veio a revelar como uma boa surpresa.
Tokyo Jungle era, conforme mencionei, algo intrigante por assentar numa história e respectiva mecânica diferentes das demais. Este jogo pós-apocalíptico, passa-se numa cidade de Tokyo deserta de seres humanos e onde os animais selvagens (ou não) dominam a cidade. Em Tokyo Jungle vestimos a pele de várias espécies animais na capital nipónica e o nosso objetivo é o de garantir a sobrevivência da nossa espécie.
Tokyo Jungle foi considerado por muitos críticos, Pplware incluindo, uma boa surpresa para os possuidores de uma consola Playstation 3.
Recentemente a Japan Studios lançou Rain, um título que, novamente, nos traz uma história e mecânicas muito próprias. Torna-se claro que a Japan Studios tomou gosto ao lançamento de jogos que primem pela diferença e, isso é bom .. muito bom. Quem ganha são os jogadores, especialmente os que gostem de coisas novas.
O Pplware já andou à chuva e …
A história de Rain começa sob a forma de uma animação simples, na qual ficamos a saber que o nosso personagem se encontra doente e assim terá de ficar em casa, em vez de ir ao circo com a família. No seu quarto, em plena noite chuvosa, o rapaz observa através da janela e apercebe-se de uma menina que corre assustada à chuva. No entanto ao ver melhor, repara que apenas se consegue ver a sua silhueta graças à chuva que cai. E pior ainda, há algo a persegui-la…
O rapaz segue então no seu encalço para tentar ajudar a menina e após transpor um arco numa das ruas próximas também ele se torna invisível.
E assim começa a nossa aventura em Rain, onde iremos percorrer as ruas da cidade a tentar encontrar e ajudar a menina bem como na tentativa de descobrir o que se passa com eles.
Bem, a história acaba por dizer quase tudo sobre o que se passa no jogo. Aliás, é ela que dá o mote à jogabilidade mais distinta de Rain.
Como já deixei bem referido, a narrativa de Rain é um dos pontos fortes do jogo e além de conseguir captar a atenção e curiosidade do jogador desde o início, acaba por se tornar extremamente viciante, com uma mecânica de capítulos curtos mas desafiantes que nos deixam sempre expectativa e ansiedade de descobrir algo mais sobre aquele estranho fenómeno que acontece com os meninos.
Logo após seguirmos a menina pelas ruas da cidade vamo-nos apercebendo de que a chuva (ou a falta dela) corresponde a um autêntico personagem principal do jogo.
Ao longo dos diferentes episódios de Rain vamos encontrando secções de jogo à chuva ou dentro de edifícios e de uma forma extraordinariamente criativa e bem implementada a Japan Studios conseguiu fazer o jogo girar em torno dela.
Como vimos acima, os meninos só são visíveis quando se encontram sob os pingos de chuva, tornando-se invisíveis quando protegidos por um telhado. Essa mecânica, aliada ao facto de termos outros seres atrás de nós abre as portas a um vasto leque de desafios e puzzles a serem ultrapassados.
E é esta a grande mais-valia de Rain. A forma como os puzzles e a chuva se imiscuem na história do jogo.
Se a chuva nos traz a vantagem de ver o nosso personagem e os nossos inimigos, também, é verdade que quando abrigados temos a vantagem de passar despercebidos.
O problema é que também os seres que nos perseguem também se tornam invisíveis quando não estão à chuva.
A Japan Studios arranjou uma forma interessante e inteligente de contornar o problema de estarmos invisíveis. Quando estamos abrigados, conseguimos ver o nosso personagem seja por pegadas molhadas, seja por papeis a esvoaçar quando passamos ou por bancos e garrafas afastadas pelos nossos pés.
Apesar de essa mecânica estar inteligentemente pensada apresenta mesmo assim alguns problemas, como por exemplo quando não estamos molhados, não há papeis nem garrafas no chão. Nessas ocasiões temos de nos guiar por intuição o que acaba por nos tirar, de certa forma, um melhor controlo do jogo.
Mas o jogo tem inúmeras surpresas para nos oferecer. Por exemplo, existem determinadas zonas nos cenários que têm lama no chão o que faz com que, caso o menino as pise fique enlameado. O problema é que quando nos refugiamos por debaixo de alguma proteção contra a chuva as partes enlameadas continuam visíveis e assim traindo a nossa proteção.
Para remover a lama temos de pisar alguma poça de água.
Este é apenas um exemplo de algumas das interessantes mecânicas que a Japan Studios implementou em Rain.
Este tipo de abordagem stealth encontra-se, de qualquer forma, bem equilibrada com algumas outras secções mais abertas nas quais teremos de chamar a atenção das feras que nos perseguem para que caiam em armadilhas, por exemplo.
À medida que nos vamos embrenhando na aventura, vamo-nos deparando com novos puzzles e novos obstáculos a ultrapassar e é isso que faz com que Rain se torne menos repetitivo e mais viciante.
Por exemplo, além dos meninos e dos seres que os perseguem, existem ainda outros seres que, parecem apenas fazer a vidinha deles sem serem bons ou maus e que a certa altura teremos de usar a nosso favor. Numa dessas ocasiões, temos de usar uma espécie de zebras nos quais nos podemos refugiar por baixo e assim ficar invisíveis aos olhos dos monstros.
Uma das falhas que tenho de apresentar a Rain respeita à interação que o jogo nos possibilita com objetos do cenário que só nos é permitida em determinadas zonas. Aliás, não existe muita liberdade sendo o caminho pré-definido e a sequência de ações e decisões pré-determinadas.
Na maior parte das vezes, o jogo faz um ótimo trabalho a indicar-nos a direção correta a seguir ou qual o próximo passo através de um sistema de pistas. Contudo, nem sempre são claras o suficiente.
Seguindo a mecânica imposta em Tokyo Jungle, Rain apresenta também a camara fixa de uma forma lateral. Apesar de possibilitar outro tipo de visão sobre a ação, verifica-se que por vezes complica a resolução de puzzles ou a fuga, quando nos encontramos a fugir de uma das feras e aparece-nos um obstáculo escondido.
Durante os 3 primeiros capítulos do jogo, a história leva-nos a correr sistematicamente atrás da menina, quer seja a tentar ajudá-la quando se encontra em apuros, quer seja apenas para que ela dê por nós e saiba que estamos com ela. Mais adiante na história finalmente eles se reencontram, torna-se gratificante. Não só o próprio momento em que ela toma consciência do menino, como quando se juntam e começam a ajudar-se mutuamente.
Um ponto que joga a favor de Rain é o seu sistema de Checkpoints. A equipa da Japan Studios implementou variados checkpoints no jogo de uma forma bastante sensata e equilibrada.
Por fim gostaria de referir que a jogabilidade de Rain é extremamente simples e o jogo é fácil de compreender, tornando assim o domínio do próprio jogo, acessível.
Graficamente o jogo apresenta-nos cenários que, não sendo deslumbrantes, estão extremamente competentes, sempre sob o poder da chuva. Aliás, é por essa razão também que o jogo é bastante cinzentão e com pouca cor.
A cidade sem vida nem outras personagens acaba por criar o ambiente sombrio e cinzento adequado à história.
Os efeitos da chuva, dos corpos molhados dos meninos e dos seres e da sua caminhada “à sombra” estão perfeitos.
Por fim, umas breves palavras para o capítulo sonoro de Rain que merece ser mencionado pois consegue de forma bastante interessante acompanhar o jogo e a ação que nos acompanha a cada momento. A equipa da Japan studios conseguiu com mestria fazer uma seleção de melodias interessantes e suaves mas que acompanham a ação de acordo com o que se passa no ecrã. É quase como se conseguisse captar o som dos sentimentos e sensações de pânico, desespero, medo, tristeza são suavemente acompanhados por uma banda sonora à medida.
De resto, a chuva, alguns sons de efeitos e das feras e pouco mais.
O facto de o jogo não possuir vozes para os personagens acaba por ser um desafio bem ultrapassado pela equipa de desenvolvimento, que criou um sistema de comunicação com o utilizador através de textos embebidos no próprio cenário.
Nota Final- 7,6
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Gostei bastante da experiência, e efetivamente trata-se de uma experiência nova que Rain representa. Se há jogos nos quais a história e enredo tecem limites para a jogabilidade, Rain é um deles sendo a história um dos principais personagens do jogo. Contudo fiquei com a sensação de que Rain se torna numa experiência demasiado controlada pela equipa de desenvolvimento cortando a liberdade de escolha ao jogador. Um agradável jogo que satisfará todos os amantes de puzzles, desafios pouco exigentes e uma história diferente mas bem contada.
Gráficos: 7,7
Gráficos cinzentos mas com bastante detalhe. Pormenores interessantes usando a chuva como principal ferramenta.
Som: 7,7
Música com sentimento, acompanhando o que se passa no ecrã.
Jogabilidade: 7,5
Experiência demasiado controlada. Mecânicas interessantes usando o tema do jogo como ponto de partida. Jogabilidade simples e de certa forma, fácil de dominar.
Longevidade: 7,4
Cerca de 7 horas de aventura com desbloqueio de mais opções.