Quando era puto tinha uma colecção razoável de LEGO. Sempre gostei de inventar construções com os LEGOs que tinha à disposição e, numa altura em que não havia ainda a quantidade de oferta de divertimentos e afins, passava horas a fio assim.
Talvez por tal, é como alguma nostalgia que faço esta análise, de LEGO City: Undercover.
O jogo que já foi apelidado de o GTA de LEGO, surge assim, para a Wii U como um dos seus cavalos de ataque para 2013 e como a grande promessa de não ser apenas mais um jogo LEGO, mas sim, o jogo LEGO.
Foi com algumas expectativas altas que peguei em LEGO City e em Chase McCain.
A história de LEGO City: Undercover leva-nos até à cidade de LEGO e coloca-nos na pele de Chase McCain, o policia à paisana (undercover) que prendeu Rex Fury, um bandido da pior gema. No entanto, acontece que recentemente, Rex fugiu da prisão lançando a cidade num caos. Desta forma, e com as forças policiais de LEGO City num caos, a Presidente da Câmara pede ajuda a Chase para o voltar a colocar atrás das grades pelo que, reacendendo alguns sentimentos antigos e criando amizades novas, Chase está de volta para voltar a dar ordem ao caos no qual a bela cidade de LEGO City se transformou.
Estão assim lançadas as bases para o jogo que, apesar de não serem nada de excepcionais, acabam por dar um bom corpo à aventura.
Quer para os amantes de LEGO, quer para os restantes jogadores, uma ideia surge sempre em mente, quando falamos de um jogo LEGO, infantil. Surgem sempre pensamentos de, milhares de peças LEGO, personagens de plástico e inexpressivos e falta de calor e emotividade.
Pois, a todos os que lêem estas palavras e tenham essas ideias, podem tirá-las da cabeça pois LEGO City: Undercover traz isso tudo … e muito mais.
LEGO City: Undercover é um jogo de família, apesar de não permitir que se jogue em simultâneo, é um bom exemplo de como pode agradar tanto a “gregos como a troianos”. Uma das coisas que me preocupava era precisamente como seria a TT Fusion capaz de gerir o equilíbrio entre o público mais jovem e o acesso ao público mais velho. A resposta foi simples … através de uma mecânica seriamente divertida, ou divertidamente séria.
O jogo é uma delicia, tanto para adultos como para crianças. Está repleto de bons motivos e momentos de humor que tanto conseguem atingir os mais velhos como os mais novos, e esse é um dos trunfos do jogo. O jogo apresenta uma componente séria, ou não fossemos um policia atrás de um bandido, mas a forma como as missões se vão desenrolando e as interacções com os restantes personagens acabam por trazer ao de cima um ambiente muito mais descontraído e descomprometido.
Acessível é praticamente uma palavra que encaixa plenamente em LEGO City, pelo que talvez os jogadores mais exigentes, não tenham aqui um jogo com muitos motivos de interesse mas para todos os restantes há de sobra. O jogo é tão simples e genial que não necessita de grandes explicações.
Por falar em simplicidade, o grau de dificuldade de LEGO City é bastante baixo. Chase é um LEGO bastante atlético e apresenta um interface de controlo bastante simples. Corre, salta, interage com os objectos. Enfim tudo de uma forma simples e a interacção com os objectos é dependente do cenário o que ainda torna mais acessível. Por exemplo, há alturas em que temos de fazer slide, outras temos de apenas nos balançar num mastro de bandeira, ou outras em que apenas temos de fazer equilibrismo … tudo isto de forma simples e intuitiva.
Aliás, intuitivo é outro adjectivo que assenta em LEGO City que nem uma luva. O jogo esforça-se por tal, e mesmo as situações mais complexas apresentam algumas dicas que nos ajudam. No entanto, a partir de certa altura, já não precisamos da maior parte dessas dicas.
Graficamente, LEGO City é um assombro aos nossos olhos e uma fiel transposição do Universo LEGO para um videojogo. O mapa apresenta-se dividido em várias áreas distintas, passando cidade e suas cores variadas, pelos tons mais acastanhados do campo, pelo verde da floresta ou o azul do mar.
LEGO City dá-nos os melhores e mais belos cenários que um jogo LEGO nos pode apresentar. É um autêntico regalo para os olhos. Tal como é um regalo ver as centenas, milhares de peças de LEGO espalhadas pela cidade ou então causadas pelos acidentes que provocamos.
Esses acidentes estão brutais. Em LEGO City temos dezenas de veículos à nossa disposição…. bem … à disposição da policia. Enquanto os conduzimos, que pessoalmente não gostei muito, ocorrem por vezes acidentes, certo? Acontece que os nossos veículos, feitos por LEGOs, à medida que vamos batendo com eles, vão-se deteriorando perdendo peças aqui ou ali, até ficar num ponto em que apenas temos o chassis. Genial… Felizmente, o jogo oferece-nos também um GPS de forma a que não nos percamos no caminho de determinada missão ou atrás de algum bandido. No entanto, ocasionalmente acontece que esse GPS perde o norte e desaparece … mas apenas temporariamente.
No entanto, e como referi, não gostei muito da condução em LEGO City. Cada carro tem a sua própria maneabilidade mas na prática as suas conduções são bastante difíceis de controlar e de dominar. Os comportamentos dos veículos são demasiado quadrados.
Se há algo que me deixou fascinado em LEGO City, foi o que a TT Fusion fez para que a cidade transpirasse vida. É impressionante, desde os sons dos carros, aos sons dos barcos, das gaivotas, …. e acima de tudo, ao som das “pessoas”. Quase todos os personagens em LEGO City têm voz, e é perfeitamente normal irmos a andar na rua e ouvirmos as conversas das “pessoas” … é de louvar a preocupação da equipa de desenvolvimento em ajudar a criar uma cidade que vive, também pelas conversas dos seus habitantes.
E é aqui que muitas vezes ouvimos uma ou outra piada que, pelo facto do jogo se encontrar totalmente em português, só ganham ainda mais graça, mesmo apesar de algumas delas serem mais viradas para adultos. Mas e daí, uma vez que LEGO City é um jogo para a família, pode-se dizer que diverte tanto o pai como o filho.
Neste capitulo o tipo de sonoridades escolhida para a banda sonora ajuda bastante, pois acrescenta ainda mais um tom descontraído ao jogo.
O uso do Gamepad da Wii U foi algo que também me deixou bastante satisfeito. Apesar de não ter um uso muito maciço, quando é usado, é-o com inteligência e criatividade. Por exemplo, podemos usar o Gamepad para, apontando na direcção da TV, ser-nos indicado onde estão escondidos bandidos, ou então usar para tirar fotos como provas. É uma mecânica simples mas que enriquece o jogo com inovação.
Outra forma de interacção surge quando Ellie (da central de policia) fala connosco ou nos dá instruções. Ellie surge então no Gamepad e fala connosco por aí, enquanto progredimos com a nossa aventura, sem demoras na televisão.
Quanto ao nosso herói e personagens com quem ele interage as vozes estão soberbas, sendo sérias quando têm de ser, e hilariantes quando a situação exige uma gargalhada. Aliás, convém dizer que há muito poucas ocasiões em que o jogo exija mais seriedade, portanto o gozo está quase sempre presente.
Mas nem tudo são rosas … havendo também alguns cravos e curiosamente um dos pontos fracos do jogo acaba por ser o seu sistema de combate. O sistema de luta é simples. Premimos o X para os ataques e manobras de submissão, mas o que se passa é que os comandos nem sempre funcionam como deveria ser. Aliás, a maior parte das vezes nem funciona quando o premimos. É chato, pois a indicação a dizer-nos qual o timing certo para atacar ou contra-atacar nem sempre responde adequadamente.
Pancadaria à parte, LEGO City é uma cidade gigantesca e na qual a liberdade que temos de a descobrir só se iguala em jogos como GTA ou Sleeping Dogs, por exemplo. Aliás, LEGO City é por muitos identificado como GTA: Leco City. No entanto e dada a dimensão da cidade, é de louvar a grande rapidez com que a sua extensão e vida nos é mostrada. Podemos passear e investigar a cidade à vontade e em qualquer lado a cidade pulula de vida e o mais impressionante é o facto de tudo isto se passar sem tempos de loading.
No entanto, isto paga-se. E paga-se com os intervalos entre as missões, que apresentam tempos de loading bastante demorados.
Um pouco como no seu congénere mais sério, GTA, LEGO City permite-nos pedir “carros emprestados” e, uma vez que o jogo apresenta um cariz mais soft, isso passa-se com a maior das naturalidades. Basicamente, o “isto é um assunto de policia” resolve qualquer problema moral que pudesse existir.
Peças de LEGO especiais encontram-se espalhadas pelos cenários aumentando assim a nossa vontade de explorar a cidade. E enquanto exploramos a cidade, vamos encontrando ocasionalmente, alguns locais com bases de propósito para que Chase possa construir Mega-Construções. Essas construções são pontos de interesse bastante úteis no jogo que permitem, por exemplo, pedir um carro novo (sendo este transportado de helicóptero).
Ao longo da aventura, Chase vai adquirindo alguns disfarces que lhe são úteis para abrir caminho até Rex. A mudança de disfarce é extremamente rápida usando apenas os Gatilhos R2 e L2 para tal e cada disfarce surge-nos com uma outra mais-valia, as especializações. Cada disfarce apresenta poderes específicos, e muitas vezes temos de saber jogar com isso.
Creio que neste capitulo a TT Fusion perdeu uma boa oportunidade de adicionar uns pozinhos de RPG.
Conforme mencionei mais atrás, espalhados pela cidade (na rua, em cima de edifícios …) encontra-se um número simplesmente titânico de LEGOS. Ora se esses LEGOs são a nossa moeda do jogo, significa que em breve estaremos …. ricos.
Ao longo da cidade há bastantes áreas e eventos secundários, alguns deles bloqueados ao inicio, mas que à medida que vamos evoluindo se vão tornando acessíveis. Acreditem que até nos é permitido bater umas bolas de Basket.
Nota Final- 9,2
[0……....……10]
O desafio em redor de LEGO City era grande e ambicioso mas, no final o “Desafio foi superado!”. As expectativas eram grandes e a TT Fusion conseguiu atingi-las e superá-las com mestria, inteligência e inovação. LEGO City surge como um bolo que foi cuidadosamente preparado, desde a ida à mercearia, até aos tempos de cozedura. Está feito com as doses, pesos e medidas certas e o resultado é simplesmente fantástico. LEGO City é um jogo 100% fun …. não há como enganar. Trata-se de uma autêntica montagem de LEGO gigantesca interactiva na qual interagimos por dentro … numa espécie de regresso ao passado.
Gráficos: 9,5
LEGO City: Undercover é LEGO até ao mais pequeno cromossoma. Com um grafismo muito LEGO-style, personagens tal e qual como as miniaturas que conhecemos dos LEGOs com que brincámos, veículos que se vão desfazendo em peças até conduzirmos apenas um chassis …LEGO City leva-nos realmente para dentro de uma construção de LEGO.
Som: 9,0
O facto de ser em português só pode ser de louvar e tal reproduz-se não só pela maior acessibilidade aos mais novos, como também pelas inúmeras paródias e brincadeiras faladas que são ditas no jogo. Os actores que deram vida aos personagens, encarnaram bastante bem os seus LEGOs e o ambiente mais descontraído está presente na sonoridade e efeitos sonoros do jogo.
Jogabilidade: 8,8
O jogo apresenta-se tal e qual como poderíamos exigir, simples e prático. É dinâmico, é divertido e usa as potencialidades do GamePad da Wii U. Apenas minado por alguns pormenores tal como o sistema de combate e tempos de loading. No entanto, é-se fácil e divertido ser um LEGO.
Longevidade: 9,2
Para além das horas e horas que poderemos passar a tentar fazer as missões principais do jogo, existe muito mais para descobrir, desbloquear e interagir. Afirmar que se chegou ao fim de LEGO City: Undercover é quase uma blasfémia pois o jogo pede constantemente para ser jogado. É tremendamente fácil perdermos a noção do tempo enquanto vestimos a pele de Chase McCain.
