Todos os anos são lançados, para as várias plataformas, os mais variados jogos. Uns perduram na nossa memória e outros passam rapidamente por nós, não por serem maus, mas simplesmente porque lhes faltava algo que nos cativasse. Depois há, de tempos a tempos, jogos como Horizon Zero Dawn que, pela sua excelência e pela sua magnificência, se arriscam a ser, durante muitos anos, um ponto de referência.
Este é, sem qualquer sombra de dúvida, um dos jogos do ano. O Pplware entrou neste mundo magnífico que mistura o primitivo com o ultra moderno e conta-vos como é viver num mundo tribal pós-apocalíptico povoado por dinossauros mecânicos.
Horizon Zero Dawn é um grande jogo, um excelente jogo que nos prende desde o início. Que nos faz querer continuar a jogar sem parar até que as nossas perguntas tenham sido completamente respondidas.
O início do jogo lança-nos o mistério: quem é Aloy? Uma pária, uma sem-tribo, que nasceu sem mãe e está a cargo de Rost, também ele um pária, ostracizado pela tribo Nora. Porque é Aloy uma pária mesmo não tendo cometido qualquer crime ou transgressão? Por que motivo os membros da tribo não podem falar com ela e, quando falam, a insultam e maltratam? Também a sua mente é percorrida por estas dúvidas e eis que um dia, após cair numa caverna onde descobre um pequeno instrumento – denominado Foco – que lhe permite ter uma outra percepção do mundo à sua volta, Aloy decide que tem de saber. Tem de ter respostas para as suas perguntas. Tem que saber de onde veio, quem é e qual o seu papel no vasto mundo que habita.
Para isso terá de treinar arduamente e aprender todos os ensinamentos de Rost. Este prepara-a, incute-lhe disciplina, ensina-lhe técnicas de caça e de luta. Treina diariamente tendo como objectivo “a Prova”, um ritual de passagem que permite – a quem o termina com sucesso – pertencer à tribo. Mas Aloy não está focada apenas em terminar. Está focada em vencer pois o vencedor terá o privilégio de ver respondida pelas Matriarcas Superioras uma questão à sua escolha. Aloy quer saber quem é a sua mãe…
“Um enredo absolutamente cativante que torna nossa a demanda de Aloy”
Este é o mote de Horizon Zero Dawn. É aqui que começa uma aventura fantástica que nos leva a percorrer montanhas cobertas de neve, vales arborizados e desertos gigantescos e a ter encontros frequentes com gigantescos e ferozes monstros mecânicos, autênticos dinossauros de metal, cada um mais terrível e poderoso do que o anterior. Estes “animais” dominam o mundo, percorrem-no em manadas e qualquer encontro com estas criaturas pode terminar mal para Aloy. Para que isto não aconteça, dispomos de um conjunto de técnicas que podemos utilizar para o evitar: temos a possibilidade de nos escondermos no meio de ervas mais altas e assim passar despercebidos no meio das máquinas ou – utilizando o Foco – perscrutar o terreno para identificar possíveis ameaças ou alvos.
Caso as nossas técnicas de stealth falhem e não nos seja possível evitar o confronto, o modo de combate é extremamente intuitivo e fácil de aprender e controlar, sendo mesmo um dos melhores atributos deste jogo. Não dispomos de muitas armas ou de armas tecnologicamente avançadas, mas as que temos – para além de poderem ser aperfeiçoadas – são bastante úteis e muito fáceis de utilizar. A nossa principal arma será sempre o arco e temos à disposição uma grande variedade de flechas para desferir golpes certeiros nas máquinas e causar-lhes danos ou a paralisação momentânea, o que facilitará a utilização de técnicas de combate corpo-a-corpo. Podemos também montar armadilhas com descargas eléctricas que imobilizam o adversário, o que dá a possibilidade de desferirmos um golpe fatal sem sermos atacados.
Contudo, a nossa melhor arma é o Foco. Trata-se de um pequeno aparelho que nos permite perscrutar o terreno assinalando a presença de máquinas – e até mesmo de humanos – apontando as suas vulnerabilidades. Isto permite-nos, antes de qualquer confronto, identificar os pontos mais vulneráveis de cada máquina e qual o ponto certo a atingir para maximizar os danos infligidos.
“Os confrontos com as máquinas podem ser letais. É obrigatório usar o Foco para analisarmos ameaças.”
Mas não é apenas as máquinas que temos de combater. Os inimigos são muitos e estão apostados em impedir-nos de prosseguir a nossa aventura. Os confrontos contra adversários humanos são mais complicados porque estes são mais ágeis e conseguem proteger-se de uma forma mais eficaz, pelo que é comum que os golpes que desferimos não causem qualquer estrago. O mais acertado será ter sempre alguma cautela quando nos encontramos numa situação potencialmente perigosa, utilizar o Foco para analisar bem a situação e tentar não dar nas vistas utilizando um ataque mais silencioso.
Porém, é raro sairmos de um combate incólumes, sendo necessário restabelecer os nossos níveis de energia através do uso das muitas plantas medicinais que vamos recolhendo ao longo do caminho. Estas, dependendo da quantidade de que dispomos, repõem a nossa energia em níveis normais o que – num mundo em que podemos ser atacados por uma máquina a qualquer momento – se torna imprescindível.
Mas as interacções com outros personagens em Horizon Zero Dawn não é composta apenas por combates. Podemos falar com os vários NPCs que encontramos, o que quase sempre nos dá mais algumas pistas para compreendermos aquele mundo. Nestas interacções, e a troco de lascas de metal retiradas das máquinas, podemos adquirir armas e equipamento novo ou melhorar o que já possuímos. Estas conversas com NPCs podem revelar-se, por vezes, um pouco frustrantes: sente-se que os diálogos não são naturais, com meia dúzia de frases-chave repetidas muitas vezes sem critério e fora de contexto. Este é um ponto negativo deste jogo. Talvez o único…
“O mundo de Horizon Zero Dawn é fabuloso… transporta-nos para um passado primitivo.”
À medida que vamos seguindo em frente e nos vamos embrenhando no jogo, torna-se mais evidente esta conjugação da pré-história e do mundo moderno. Um mundo que, embora nos pareça familiar, não somos capazes de reconhecer: as ruínas de edifícios ou carcaças ferrugentas de automóveis são vestígios identificáveis que nos fazem pensar sobre o que terá provocado tamanho cataclismo e quase levado a espécie humana à extinção.
Horizon Zero Dawn presenteia-nos com um dos mais belos mundos alguma vez criados, povoado de florestas imensas, montanhas cobertas de neve, rios de água limpa e desertos escaldantes. É a terra devolvida a si própria, sem intervenção humana, com cenários absolutamente fantásticos. É muito fácil desviarmos-nos da nossa missão e simplesmente explorar os cenários até não sabermos onde estamos pelo simples prazer de admirar uma natureza perfeitamente recriada ao pormenor.
Ajudando à atracção exercida pelo realismo visual do mundo que nos rodeia, o enredo prende-nos pela sua simplicidade. É fácil sentir empatia por Aloy e querer ajudar esta pária transformada em heroína a encontrar respostas para as questões acerca da sua própria existência. Aloy torna-se parte de nós e nós tornamos-nos parte do jogo.
A acompanhar tudo isto, os sons da terra replicados na perfeição. Em Horizon Zero Dawn os efeitos sonoros estão feitos de forma a colocar o jogador dentro do jogo, a fazê-lo sentir o que sentem os personagens e a transportá-lo para uma realidade fascinante. A banda sonora é calma e perfeitamente adequada a cada situação, acompanhando os vários níveis de emoção que vão surgindo no jogo.
“Sem dúvida, um dos melhores jogos do ano que alia a aventura e a descoberta à beleza estonteante das suas paisagens e á profundidade do seu enredo.”
Veredicto
Horizon Zero Dawn é um jogo completo. Uma mescla improvável de conceitos que resulta na perfeição. Com um cenário atraente e um enredo fascinante e cativante, este jogo transporta- nos para uma época que se encontra simultaneamente num passado longínquo e num futuro distante. Aliado à emoção da aventura e da descoberta, o modo de combate que somos obrigados a utilizar várias vezes durante o jogo é intuitivo e extremamente fácil de aprender e de utilizar. Horizon Zero Dawn é um jogo excelente que será, por certo, um dos jogos do ano.
Muitos jogos nos ficam na memória e este é, sem qualquer dúvida um deles.