Desde quase sempre que jogo RPGs … gosto particularmente deste tipo de jogos. Da componente de aventura, da componente de estratégia (não só dos inventários como das evoluções das personagens), da componente de entreajuda com os companheiros de equipa que geralmente acompanham os heróis, da criatividade dos produtores na criação de mundos, cenários, inimigos, … e claro está, das histórias que geralmente são os pontos de arranque para estes jogos.
Dragon’s Dogma foi lançado no mês passado e é o mais recente RPG da Capcom, produtora não muito comum na criação deste tipo de jogos. E foi em boa hora que a Capcom se lançou no mundo dos RPGs com Dragon’s Dogma pois este jogo demonstrou-se numa boa surpresa.
A história, conforme mencionei acima é, na minha perspectiva parte fundamental dum bom RPG. Trata-se da cola que tem de unir todos os pontos do jogo, e como tal terá de ser sólida e criativa. Em Dragon’s Dogma tudo acontece quando num ataque à nossa aldeia, à beira-mar plantada um dragão nos ataca e nos arranca o coração. Tornamos-mos assim no Arisen, uma espécie de herói daquelas terras e o qual tem grande prestigio e apoio das populações. Com uma ligação especial com o Dragão partimos assim numa demanda para o descobrir e nos vingarmos, com a ajuda de alguns aliados. O que pode terminar com um final ….. surpreendente.
Gráficos: 7,8
Dragon’s Dogma presenteia-nos com um Mundo aberto (quase totalmente) à exploração e como tal podemos contar com diferentes tipos de pano de fundo para a aventura. Tanto temos cidades medievais, como acampamentos, como florestas, minas, ou praias e em altura alguma nos sentimos desiludidos com o ambiente circundante.
Rodeados de pessoas nas cidades ou estradas, animais nos bosques, a vida pulula em todo o lado trazendo uma certa noção de realismo ao ambiente. Contudo, tal sensação de realismo deveria ser maior se tivesse havido uma maior preocupação com a vivacidade desses personagens. Por exemplo, nas cidades as personagens são poucas e apresentam-se na maior parte das vezes a fazer as mesmas coisas.
Quanto aos diversos inimigos que vamos encontrando pela aventura, e tal como disse acima, apresentam uma certa dose de criatividade. Encontramos desde os tradicionais lobos, e outros animais, a grupos de ladrões, até a outros seres bem mais perigosos, como Quimeras, Cyclopes ou Hidras. Tudo com um detalhe bastante bom, embora nada de excecional. O jogo apresenta algum ruído visual e por vezes torna-se notórios certos problemas de baixas fps.
O jogo assenta ainda sobre um ciclo dia-noite em tempo real que se encontra bastante bem idealizado e que se torna bastante importante respeitar durante a progressão na aventura, pois à noite o simples vaguear pela estrada pode ser mortal.
Som: 8,0
Em Dragon’s Dogma podemos encontrar um pouco de bom e de mau no que respeita ao som e efeitos sonoros.
A banda sonora é deliciosa e enquadra-se perfeitamente no ambiente algo medieval do jogo, com algumas passagens épicas. Durante as lutas a intensidade da música aumenta e cria mesmo aquela tensão que se sente na pele.
Os efeitos sonoros do jogo apresentam-se simples mas adequados. Embora por vezes se tornem algo repetitivos. Por exemplo, o destruir duma carroça de madeira, só por ser de madeira não tem de ser igual ao som de destruir dum caixote de madeira. De qualquer forma não comprometem e ajudam a criar um ambiente. Um pormenor interessante é o som das flechas a atingirem os diferentes tipos de inimigo, madeira, …
As vozes dos personagens em Dragon’s Dogma conseguem ser normais e fluem com facilidade na generalidade das ocasiões, parecendo demasiado forçadas e inexpressivas em alguns diálogos com NPCs. Alguns atores fizeram o seu trabalho de casa enquanto que fica a ideia de que outros não estariam muito bem dispostos na altura da gravação.
Jogabilidade: 8,3
Conforme indiquei acima, começamos a nossa aventura após o dragão nos arrancar o coração. Após sermos tratados em casa duma prima nossa, partimos para a aventura e na nossa procura por vingança, armados com uma espada e muita determinação.
Logo que começamos a jogar apercebemo-nos duma coisa bastante importante num RPG, que é a presença de variadas Side-Quests. Logo no arranque da aventura temos a oportunidade de falar com alguns personagens que nos pedem para fazer algo, como por exemplo encontrar umas escrituras roubadas da Igreja. Embora quase nada tenham a ver com a história principal, acabam por nos trazer alguma diversidade.
Aliás, essa é uma grande falha na aventura … a própria história acaba muitas vezes por ser relegada para segundo plano e quase esquecida.
Na nossa aventura podemos andar com um máximo de 3 aliados, ou 3 Pawns como o jogo lhes chama. Embora 2 deles possam ser contratados para nos ajudar, um outro é criado por nós tal e qual como nós criámos o nosso personagem no início do jogo, com a sua classe (Fighter, Warrior, Mystic Knight, Strider, Ranger, Assassin, Mage), a sua aparência, a sua voz e o seu nome. À medida que o nosso Pawn principal evolui vai ganhando experiencia e vamos podendo adquirir upgrades para ele ou ir-lhe atribuindo pontos de skills. Por outras palavras vamos evoluindo nós, e o nosso Pawn também.
É a mecânica tradicional dum RPG mas que apresenta em Dragon’s Dogma uma particularidade que é o facto do nosso Pawn Principal poder ganhar experiência sozinho, nos momentos em que descansamos. Por outras palavras o nosso Pawn, quando estamos offline do jogo poderá ser contratado por outros jogadores e ajudá-los a completarem as suas quests. É uma mecânica bastante criativa e que apesar de apenas trazer algum dinheiro ou itens ao nosso inventário, traz alguma experiencia ao nosso Pawn.
Uma coisa importante na contratação de Pawns de outros jogadores é o facto deles se lembrarem das zonas e inimigos por onde passaram e se contratarmos um que já passou por uma zona onde estamos em determinada altura, pode dar-nos pistas e dicas úteis de como passá-la.
Falando de inventário, eis uma propriedade importantíssima em qualquer RPG e em em Dragon’s Dogma tal não é menos importante. Temos um limite de peso que qualquer um dos elementos do nosso grupo pode levar e por tal é importante saber dosear bem os equipamentos que cada um leva. Além dos equipamentos, das armaduras temos também no inventário duas outras slots bastante importantes: Utensílios e Matérias Primas.
Os utensílios correspondem a determinados objetos que vamos apanhando e que podem ser usados nas nossas aventuras, tais como pás, vassouras, lanternas, … enquanto que as matérias-primas correspondem a outras coisas que vamos encontrando, como flores por exemplo e que só por si podem ser consumidas e ter um certo efeito (recuperar certa stamina) mas que podem ser combinadas com outras matérias-primas e criar poções mais fortes.
A quantidade de combinações é gigantesca e o único problema é não ser simples a determinação do resultado duma combinação de dois elementos. Deveria de ser dada uma descrição mais detalhada da combinação de dois elementos em vez de apenas o nome do resultado.
Pormenores extremamente importantes como a necessidade de ter frascos cheios com óleo para poder acender a lanterna estão deliciosos e são pormenores que na sua soma dão outra dimensão de profundidade ao jogo.
Durante uma luta temos o apoio dos nossos Pawns que efetivamente nos são uteis, mas creio que mais comandos poderiam ter sido disponibilizados para os comandar. No entanto, a IA por detrás deles comporta-se de forma positiva … por exemplo, se temos um Mago na nossa party, e durante uma luta estivermos a ficar fracos ele cura-nos, ou então se conseguir dá-nos uma dose extra de concentração ou stamina .. vê-se que a IA dos nossos companheiros faz um bom trabalho … excetuando alguns comentários desgarrados e repetitivos que teimam em lançar.
O jogo apresenta um sistema de combate simplificado, que consoante a classe que escolhemos ao inicio para o nosso personagem se pode basear mais em ataques de proximidade (espadas, machados, …), ataques à distância com recurso a arco e flechas ou ataques mágicos … à medida que evoluímos na aventura ganhamos também experiência que podemos usar para melhorar alguns dos nossos atributos, embora não tenha gostado particularmente da forma de atribuição desses pontos de experiência.
Os combates apresentam-se assim duma forma simplificada mas com graus de dificuldade muito diferentes. Existem alguns bosses que podemos encontrar logo ao inicio de extrema dificuldade e dos quais é mais fácil fugir e voltar mais tarde … alás, o próprio jogo incita-nos a desistir quando as coisas estão demasiado complicadas.
Conforme mencionei ao início cada inimigo tem alguns pontos fortes e outros pontos fracos. Por exemplo, um Grifo pode ter a vantagem de atacar do ar, mas a desvantagem de cair se as asas forem atingidas. Este tipo de estratégia é importante e ainda acrescenta maior profundidade ao jogo.
Uma outra particularidade nos combates prende-se com a possibilidade de podermos subir para cima dos inimigos e ataca-los daí, bem ilustrado no vídeo acima.
Algures durante a viagem, seja em cidades, acampamentos ou apenas nos bosques e estradas encontramos personagens que nos dão quests acessórias para serem completadas.
Longevidade: 8,3
O que dizer dum jogo que pode levar mais de 20 horas a ser completado, que apresenta uma grande variedade de localizações a investigar, montes de quests a completar, muito para descobrir e que nos pede para jogarmos outra vez para verificar se as nossas opções conseguem trazer um final diferente?
Nota Final-8,2
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Dragon’s Dogma foi uma surpresa agradável. Estava expectante quando peguei no jogo e duvidava se conseguiria pegar-me aos comandos duma forma entusiasmante e o que é certo é que o jogo conseguiu. Com uma história razoável e que tende a cair no esquecimento em grandes partes da aventura, Dragon’s Dogma responde-nos com uma jogabilidade simples e com uma mecânica de Pawns inovadora e eficaz. Aliás, creio que esse será o melhor adjetivo para Dragon’s Dogma, Eficaz. Não desilude nem compromete e apesar de não conseguir um nível de Dragon Age por exemplo, é um jogo que vicia e que merece ser jogado por todos os amantes de RPGs e jogos de aventura.