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Análise Dishonored 2 (Xbox One)

Foi no longínquo ano de 2012 que Dishonored foi lançado, um titulo com perspectiva da primeira pessoa (first person) e uma jogabilidade stealth com fortes características RPG (Role Playing Game) que se veio a revelar como uma lufada de ar fresco no universo dos videojogos. Aliás, a qualidade desse primeiro Dishonored pode ser facilmente confirmada pelos diversos prémios GoTY que obteve na ocasião.

Tamanho sucesso não podia passar despercebido à Arkane Studios pelo que agora, em 2016, chega a vez de Dishonored 2 e o Pplware já teve a oportunidade de o testar.

Uma das grandes mais-valias do Dishonored original foi claramente a profundidade do seu enredo, aliado a uma jogabilidade fluída e inteligentemente criada. O jogador controlava Corvo Attano, o guarda-costas da Imperatriz Jessamine Kaldwin, injustamente acusado do seu assassinato e do rapto da sua filha, Emily Kaldwin.

Agora, passados mais de 10 anos sobre os eventos de Dishonored, Emily tornou-se Imperatriz do Reino e quando as coisas estavam a parecer calmas e tranquilas, surge uma nova ameaça no horizonte, Delilah Copperspoon. Numa sequência extremamente interessante (e importante para o decorrer do próprio jogo), Delilah efectua um coup d’etat e usurpa o trono, alegando que com a morte da Imperatriz, deveria ser ela a regente do Reino.

Este primeiro momento acaba por ser extremamente importante pois traz consigo a principal novidade de Dishonored 2, escolha do protagonista com o qual vamos encetar e terminar a aventura. É neste preciso momento que escolhemos ou Emily, ou Corvo (consoante a personagem escolhida, a outra é transformada em pedra, tal como Han Solo por Jabba na Guerra das Estrelas).

Com efeito, a seguir a esse momento em que Delilah ocupa o trono somos enviados para a prisão e é precisamente nesse momento que conseguimos fugir. A nossa missão, como já devem estar a antever, é a de descobrir se realmente Delilah é quem diz ser e descobrir um outro mistério que se tem vindo a acumular junto das populações de Dunwall: o aparecimento de um assassino de nome Crown Killer cujos assassinatos aparentemente incriminam Corvo e Emily (e cuja existência estará relacionada com o aparecimento de Delilah).

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À semelhança do original, Dishonored 2 apresenta-se numa mecânica de episódios a serem completados (10 no total com variadas missões secundárias) e com uma tremenda liberdade de escolha, acerca da forma de os completar.

Tal como referi ao inicio, o jogo pretende ser uma aventura stealth mais cerebral e menos física mas a verdade é que nada impede o jogador de o fazer. É claro que existem cenários onde é mais fácil entrar adentro de espada e pistola na mão e matar tudo o que mexa, mas também não deixa de ser possivel e até extremamente recompensador o oposto: terminá-lo sem derramar sangue. A escolha é do jogador, e qualquer uma das opções é válida.

As habilidades especificas de cada personagem a isso ajudam. Corvo mantém as habilidades do jogo original enquanto que Emily surge com um conjunto de capacidades físicas e sobrenaturais vocacionadas para uma abordagem furtiva.

Desde o inicio que o principal modo de ataque é com espada numa mecânica simples mas que acaba por levar algum tempo a acostumar devido à perspectiva na 1ª pessoa. Basicamente existem duas acções principais no uso da espada: X para defender ataques e Y para proceder a ataques. O equilíbrio entre estes dois momentos é de extrema importância (inclusive quando equipamos outra arma em simultâneo).

Receio no entanto que, o combate com espada seja algo simplista em demasia perdendo assim a oportunidade de oferecer ao jogador uma perspectiva mais empolgante do uso da 1ª pessoa.

Seja como for, nem sempre a melhor forma de agir é atacando abertamente. Os soldados estão bastante atentos e quando suspeitam de algo chamam reforços (apresentam um ícone por cima da cabeça que indica o grau de suspeição) e chegam a lembrarem-se da posição de certo colega em determinado local e se o não encontrarem, dão o alerta.

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Seja como for, existem sempre alternativas para todas as situações e, ao jogarmos com Emily por exemplo, podemos quase passar despercebidos por um pátio repleto de inimigos graças ao poder sobrenatural Far Reach (permite-nos saltar quase instantaneamente de um lado para outro em grandes distancias). Aliás, o jogo tem uma avaliação no final de cada episódio no qual avalia a nossa performance com base nas mortes, manobras furtivas, knock-out não letais. Como já mencionei, existem opções para todos os gostos e se o jogador não quiser matar ninguém, pode perfeitamente tentar fazê-lo, tal como acontece com o inverso.

Convém referir que os poderes sobrenaturais de Emily, apesar de pouco numerosos, são adequadamente equilibrados e variados para nos ajudar em determinadas situações. Além do Far Reach (mencionado acima), outro extremamente importante para a investigação dum local é o Dark Vision que nos permite ver na escuridão e realçar objectos interactivos no cenário. O Doppelganger por outro lado, é um poder que invoca uma imagem holográfica de nós próprios e que atrai os inimigos permitindo-nos assim avançar por outro caminho.

Estes são alguns exemplos das habilidades sobrenaturais que Emily possui (Corvo possui outras) e que têm um sistema próprio de evolução, em escada (com um máximo de 3 níveis) estando cada um bloqueado à partida. Para o desbloquearmos, teremos de usar determinadas Runas que se encontram espalhadas pelos cenários e em locais mais ou menos complicados de chegar.

Apesar de não precisarmos de as apanhar a todas, torna-se extremamente desafiante tentar fazê-lo pois algumas estão em locais tão difíceis de chegar que nos deixam à beira da loucura. No entanto quanto mais difícil mais satisfação retiramos do sucesso!

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Contudo, nem só de poderes sobrenaturais se armam os nossos personagens. Existe também um grupo de poderes, também eles tendo de ser desbloqueados com o recurso às Runas e que nos possibilitam habilidades mais físicas. Estas habilidades passam por correr mais rápido, sofrer menos danos em combate … Torna-se crucial, no decorrer do jogo, saber aliar todas estas capacidades físicas com os poderes sobrenaturais.

Outro aspecto que Dishonored 2 apresenta são as Bonecharms (amuletos) que nos atribuem capacidades especiais. Estes amuletos são, à semelhança das Runas, encontrados ao longo dos cenários e também eles escondidos em algumas das mais insanas localizações e atribuem-nos habilidades tão variadas como regenerar saúde através de consumo de maná, aumentar o raio de alcance das granadas ou consumir ratos brancos para nos restituir saúde.

Além da missão principal existem variadas missões secundárias.

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No decorrer da aventura vamos-nos apercebendo de que a equipa da Arkane teve uma particular preocupação com o desenho dos níveis/cenários. Não só no aspecto do detalhe (encontram-se tremendamente bem recheados) mas acima de tudo em garantir variedade de cenário para cenário e ao conseguir que esses mesmos cenários se apresentem com uma liberdade tal que o jogador pode literalmente escolher qual o caminho a seguir.

Seguir pelo páteo, subir as escadas, ir pelas varandas, seguir pela água … Existe uma tremenda abundância de escolhas adequadas a cada missão no que toca ao melhor modo de avançar, dando ao jogador o controlo da decisão. Isso é realmente importante, o facto do jogador ficar com a sensação de controlo das suas decisões, ao invés de outros jogos que o empurram para os caminhos certos.

Não querendo ser spoiler, gostaria apenas de adiantar que os cenários que mais enchem o olho (pelo menos a mim) foram o do episódio ‘Clockwork Mansion’ e a sua dinâmica de paredes móveis (à semelhança do filme ’13 Fantasmas’) e o episódio ‘A Crack in the Slab’ que obriga o jogador a interagir com o tempo presente e o tempo passado para avançar na missão. Estes dois episódios são o expoente máximo de um conjunto de episódios extremamente bem conseguidos e criativos.

É claro que tamanha qualidade e abundância acaba por ter um preço e por variadas ocasiões é notória uma queda de framerate no decorrer da acção.

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E por falar em abundância, não poderia deixar de referir a tremenda quantidade de itens com que a Arkane populou cada cenário. Cada cenário encontra-se ricamente adornado e existem adicionalmente inúmeros objectos com os quais podemos interagir. Comida para regenerar saúde, copos para distrair guardas, e  jornais, revistas, audio-grafos, livros, bebidas, alimentos, para dar contexto sobre a história.

Para quem gosta de aprofundar o conhecimento sobre os jogos, Dishonored 2 pode-se orgulhar de ter muito conteúdo. São dezenas ou centenas os jornais, revistas, cartas, audio-grafos existentes e que expõem cada um, mais um pedaço mais sobre o que se passa e passou no Reino. Devo confessar que este nível de profundidade adicional que a Arkane Studios colocou no jogo é de louvar.

No entanto não pensem que estas cartas e manuscritos são apenas contextuais e históricos. Nada disso. Por vezes, para a resolução de alguns puzzles (por exemplo, abrir um cofre de segurança) torna-se necessário procurar pistas numa carta ou numa nota que se encontra por perto. Aliás, neste capitulo de resolução de puzzles é necessário ao jogador estar bem atento a tudo o que se passa. Muitas vezes, deixar de ouvir um audio-grafo é o suficiente para que alguma missão secundária não seja concluída.

Contudo e também como reflexo disto tudo confesso que achei os tempos de loading algo excessivos.

Não queria deixar de referir o extraordinário trabalho levado a cabo pelos actores que deram voz aos personagens.

Conforme já devem ter antecipado, com tudo o que mencionei acerca do jogo e muito mais que ficou por mencionar, Dishonored 2 é um titulo que facilmente chegará às 40 horas de jogo … pelo menos para os jogadores mais interessados e perfeccionistas (e isto apenas com um personagem).

Dishonored 2

Veredicto

A Arkane conseguiu novamente. Pegou na receita de Dishonored, manteve o que havia de melhor e acrescentou-lhe novos condimentos, fazendo de Dishonored 2 um jogo imprescindível e certamente, um dos melhores de 2016.

Um jogo para quem gosta de histórias com enredos intrincados onde a intriga e a conspiração sejam o prato principal. As jogabilidades distintas de Emily e Corvo e respectivas habilidades são a cereja em cima do bolo e tornando tremendamente difícil não gostar de Dishonored 2. Simplesmente arrebatador. Impressionante. Obrigatório.

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