Já se passaram mais de dois anos desde que o mundo se fechou em casa devido ao aparecimento de uma nova doença totalmente desconhecida e com uma taxa de mortalidade elevada. Nesse período o mundo reinventou-se, o teletrabalho passou a ser uma ordem e as aulas por videoconferência uma tarefa complicada para todos.
Além de vários problemas de autoestima, aprendizagem e desenvolvimento pessoal, surge agora um novo dado relevante. Dezenas de apps para acesso ao estudo online partilhavam deliberadamente os dados pessoais e comportamentais dos estudantes, para efeitos de publicidade.
Com a pandemia, milhares de crianças em todo o mundo viram-se obrigadas a usar aplicações de ensino para as suas aulas à distância. Muitas das mais populares aplicações ganharam uma dimensão nunca antes conseguida devido a esta nova realidade. Contudo, aplicações exigidas pelas escolas não garantiram às crianças a segurança e privacidade necessárias.
Segurança das crianças colocada em causa
Um estudo apresentado recentemente, revela que dados pessoais e comportamentais das crianças foram partilhadas com empresas de publicidade, segundo a Human Rights Watch.
A organização investigou um total de 164 aplicações e sites aprovados por governos em vários países, 49 dos mais populosos do mundo. Pode ler-se que:
Dos 164 produtos EdTech analisados, 146 (89%) parecia que estacam envolvidos em práticas de dados que arriscavam ou infringiam os direitos das crianças. Estes produtos monitorizavam ou tinham capacidade para monitorizar as crianças, na maioria dos casos secretamente e sem o consentimento das crianças ou dos seus pais
Além desta informação, foi ainda revelado que em muitos casos foram recolhidos dados pessoais como quem são, onde estão, o que fazem na sala de aula, quem são os seus familiares e amigos e ainda que tipo de dispositivos as suas famílias poderiam pagar para eles usarem.
A maioria das plataformas de ensino online ainda tinha a capacidade para analisar outras apps instaladas e o que faziam pela Internet ao longo do tempo. Algumas crianças invisivelmente marcaram e imprimiram as impressões digitais de maneiras impossíveis de evitar ou apagar – mesmo que as crianças, os seus pais ou professores estivessem cientes e desejassem fazê-lo.
O relatório indica que a maioria das plataformas de ensino online partilhavam dados de crianças com empresas de adtech, que os usavam não apenas para anúncios personalizados, mas também para influenciar feeds de sites.
Muitos outros produtos EdTech enviaram dados de crianças para empresas AdTech especializadas em publicidade comportamental ou cujos algoritmos determinam o que as crianças veem online. […] Essas empresas não apenas distorceram as experiências online das crianças, como também arriscaram influenciar as suas opiniões e crenças num momento das suas vidas em que correm alto risco de interferência manipuladora.
Governos e escolas deram o aval
É importante reforçar que na maioria dos casos as aplicações foram sugeridas pelas escolas e governos, quem teria a obrigação de controlar esse tipo de prática.
Neste estudo, é ainda revelado que as aplicações móveis para Android constituíam um perigo ainda maior, sendo que as apps de ensino para esta plataforma móvel partilhavam 8 vezes mais dados pessoais que no iOS.