Um dos mais prestigiados concursos de fotografia do mundo recebeu e premiou uma imagem com o galardão maior. Na verdade, a imagem foi feita por Inteligência Artificial e o júri deste evento poderá ter sido enganado. O problema começa a agudizar-se. Agora o artista recusa receber o prémio.
Sony World Photography Awards atribui prémio à IA
Um fotógrafo gerou polémica e debate depois que a sua imagem de inteligência artificial (IA) ganhou o primeiro prémio numa das mais prestigiadas competições de fotografia do mundo. Desde então, o artista tem-se recusado a aceitar o prémio, enquanto o concurso permaneceu em silêncio sobre o assunto.
O fotojornalista Boris Eldagsen participou este ano do Sony World Photography Awards da Organização Mundial de Fotografia, um importante concurso de fotografia que oferece prémios como 5.000 dólares em dinheiro, equipamentos Sony, uma viagem a Londres para a cerimónia da entrega dos prémios e divulgação mundial dos trabalhos apresentados.
O fotografo enviou uma imagem intitulada THE ELETRICIAN para a categoria Creative do concurso Open 2023. A imagem parece ser um retrato de duas mulheres captadas com um processo fotográfico dos primórdios da fotografia.
A foto faz parte de uma série intitulada PSEUDOMNESIA: Fake Memories, na qual Eldagsen trabalha desde 2022.
PSEUDOMNESIA é o termo latino para pseudomemória, uma memória falsa, como uma lembrança espúria de eventos que nunca aconteceram, em oposição a uma memória meramente imprecisa. As imagens a seguir foram co-produzidas através de geradores de imagens AI (inteligência artificial).
Escreveu o artista na página do projeto.
Usando a linguagem visual dos anos 1940, Boris Eldagsen produz a suas imagens como memórias falsas de um passado, que nunca existiu, que ninguém fotografou. Estas imagens foram imaginadas por linguagem e reeditadas mais de 20 a 40 vezes através de tecnologia de inteligências artificial. O autor refere que combina técnicas de ‘pintura interna’, ‘pintura externa’ e ‘sussurro imediato’.
1.º Prémio na Categoria Criativa
A foto passou não apenas a ser selecionada na categoria Criativa, mas os jurados selecionaram-na como a vencedora geral dessa categoria.
Quando os vencedores da Competição Aberta foram anunciados a 14 de março, Eldagsen partilhou no seu blog opiniões sobre a vitória e sobre a IA.
Estou muito feliz por ter vencido a categoria criativa do Sony World Photography Awards 2023 / Open Competition / Single Image. Fotografo desde 1989, sou artista de fotografia desde 2000. Após duas décadas de fotografia, o meu foco artístico mudou para explorar as possibilidades criativas dos geradores de IA.
Disse o artista alemão na sua página.
Artista recusa o prémio
O caso está a criar algum desconforto. Aliás, os organizadores do prémio admitiram que não foram capazes de identificar que a imagem tinha sido criada através da inteligência artificial.
Um porta-voz da World Photography Organisation avançou que antes da entrega dos prémios, o artista tinha confirmado que a imagem era uma “co-criação” sua com recurso à inteligência artificial. Nessa altura, Boris Eldagsen terá admitido o seu interesse pelas “possibilidades criativas dos geradores de inteligência artificial” apesar de defender que a “imagem dependia fortemente da sua riqueza e conhecimento fotográfico”.
Eldagsen adicionou uma nota no seu site onde anuncia que recusa o prémio e o conjunto de fotografia oferecido pela Sony. Em carta aberta aos organizadores do concurso, o artista explica que tudo foi uma experiência e um esforço para acelerar a conversa sobre o assunto.