Por Raquel Silva Estamos na era digital, das novas tecnologias e da sua adaptação cada vez maior à vida quotidiana. Para termos uma ideia clara, são cerca de 625 milhões os utilizadores activos da Internet, em todo o mundo, segundo o mais recente estudo da Universal McCann. No caso específico do nosso país, contam-se 2,9 milhões de utilizadores activos – muito abaixo dos cerca de 23 e 19 milhões registados, respectivamente, na Alemanha e em França, países europeus líderes neste ponto; mas ainda assim um número considerável tendo em conta os 10 milhões de portugueses. Agora o aspecto mais surpreendente deste estudo, no que diz respeito a Portugal: destes utilizadores activos, 2,1 milhões criaram perfis em redes sociais. Cerca de 73 por cento, valor superior à média universal de dois terços.
Quando falamos em redes sociais, vêm-nos sobretudo à memória as chamadas redes de social network, com uma componente social e pessoal. Delas são exemplos o hi5, o Facebook e o MySpace. Permitem a partilha de imagens, informações pessoais, eventos, criando relações de “amizade” agrupadas por interesses comuns, na maior parte das vezes apenas virtuais.
Mas existem outros tipos de redes sociais, igualmente conhecidos do grande público. As redes de share (partilha), como o Youtube, o Flickr, e o Delicious, por exemplo, permitem a publicação de conteúdos online, desde fotografias, vídeos, a informações diversas. Existem ainda as redes de publish, como os blogs, através das quais qualquer cidadão pode dar a sua opinião livremente e publicá-la; e as redes de microblogging, como o Twitter, com um carácter maioritariamente de divulgação de informação, permitindo a partilha de ideias, notícias, fotografias, tudo isto em tempo real.
O estudo já referenciado revela outro pormenor curioso: ao nível global, os principais objectivos dos frequentadores de redes sociais na Internet, ao criarem os seus perfis, são o envio de mensagens a amigos, a publicação de fotografias, o reencontro de antigos amigos e o estabelecimento de novas amizades. Revela ainda que, no domínio da Internet, os blogs estão a perder terreno no que respeita à partilha de informação e de conteúdos multimédia, que tem vindo a crescer progressivamente nas redes sociais. As redes permitem aos utilizadores fazerem tudo o que quiserem num blog e mais ainda, apesar de diferentes tipos de redes se adequarem a diferentes tipos de utilizadores e mercados dominantes. Estas plataformas continuam a crescer, enquanto outros elementos dos social media estagnam ou entram em declínio.
Entre as diversas redes sociais, e tendo particularmente em conta as mais conhecidas do público, os dados estatísticos mostram as divergências de utilização e a sua importância nas vidas dos utilizadores da Internet. Em Portugal, o hi5 é o site mais visitado e conta cerca de 3,2 milhões de perfis registados. Em termos de comparação, no nosso país, o Facebook regista apenas 400 mil utilizadores. Ao nível internacional porém, os números são bastante diferentes. O Facebook é a rede social com mais adeptos em todo o mundo, ultrapassando os 260 milhões de registos. O MySpace continua a ser outra grande força, apesar de ultrapassado pelo Facebook, e conta mais de 125 milhões de utilizadores. São as redes de social network mais populares, seguidas pelo LinkedIn, com mais de 40 milhões de utilizadores, e pelo Twitter, rede de microblogging, que também já chegou à fasquia dos 40 milhões.
Ilações gerais a retirar destes dados são a perda de terreno do MySpace em relação ao Facebook, nos últimos anos, e a vulgarização deste como meio de partilha de informação. Se observarmos bem, a maioria destas redes de social network foi fundada entre 2003 e 2004 (hi5, Facebook, MySpace, LinkedIn…), sendo as diferenças de utilizadores entre elas justificadas pelas suas diferentes funcionalidades e a sua atractividade para os utilizadores da Internet. O LinkedIn, exemplificando, é uma rede voltada para as empresas, registando mais de 170 indústrias diferentes, não sendo tão vulgarizado como, por exemplo, o hi5, que foi abraçado maioritariamente pelas camadas etárias mais jovens. O Twitter é a excepção neste grupo de redes sociais: fundado há três anos, está neste ano de 2009 a começar a ser conhecido e vulgarizado entre os utilizadores frequentes das novas tecnologias, e a sua técnica algo inovadora, de microblogging, começa lentamente a atrair não só jornalistas, mas também o público em geral, que procura estar mais próximo da informação.
Outra estatística curiosa: o Second Life, também fundado em 2003, regista apenas 500 mil utilizadores em todo o mundo… e cerca de 95 por cento encontram-se inactivos na plataforma. O Orkut, por seu lado, é apenas líder no Brasil e na Índia.
A questão não é, portanto, se vale ou não a pena aderir, se há ou não interesse em criar um perfil numa rede social, se x ou y são redes para aderir ou evitar. A verdadeira questão é: será que o entusiasmo de aderir a uma rede social e criar um perfil se desvanece passado algum tempo? Depende, claro, como tudo na vida… Depende da rede social em causa, do tempo, da disponibilidade do utilizador, das suas intenções ao criar o perfil. Para além disso, existe a questão das modas: a rede que está em voga hoje pode já não estar amanhã, e a rotatividade é constante. A própria moda das redes sociais pode vir terminar num abrir e fechar de olhos. No entanto, o estudo da Universal McCann revela que quase 65 por cento dos utilizadores activos da Internet, com perfis em redes sociais, gastam tempo a actualizar as suas informações e conteúdos exibidos nos perfis, o que contradiz a opinião de muitos que referem a perda de interesse das redes sociais e o consequente perecimento do interesse depositado nelas por parte dos utilizadores.
Em relação à importância das redes sociais, sabemos que têm os seus prós e contras. Por um lado, promovem a abertura à informação global (aproveitando a expressão, são uma “janela aberta para o mundo”) e ao conhecimento do que nos rodeia. Por outro, podem levar à exclusão social e à supressão do contacto face-to-face, principal crítica endereçada às redes na Internet. Porém, ao nível do jornalismo, com a revolução que se está a verificar, através da partilha de informação em tempo real, o valor destas redes é incalculável. Estão a alterar por completo a face da informação, a impulsionar o jornalismo de cidadão – qualquer um de nós pode relatar um acontecimento para o mundo –, a mudar o papel do jornalista na sociedade de informação. Ao nível das empresas, as redes sociais surgem como meios de divulgação de actividades, de produtos, de informação, e podem vir a tornar-se fundamentais como elemento de contacto entre trabalhadores e clientes. Ao nível da política institucional, surgem também como meio de aproximação entre eleitos e eleitores, como forma de divulgação de eventos e opiniões, e até como sensibilização para as questões que preocupam o país e o mundo.
Queiramos ou não fazer parte do progresso, é fundamental abraçar e acompanhar a modernização que se verifica nos dias de hoje, e a adesão e exploração das redes sociais faz parte desse processo evolutivo.