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Música: ABBA, Radiohead e The Cure atiram-se à inteligência artificial

O protesto vem a subir de tom e começa a juntar nomes de peso da indústria do entretenimento. Músicos dos ABBA, Radiohead e The Cure estão entre os signatários de uma missiva que contesta a utilização indevida das suas criações no desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial.


Continua a polémica em torno da utilização de obras de arte, ou produtos culturais com direitos autorais, por parte das ferramentas de inteligência artificial. Músicos dos grupos ABBA, Radiohead e The Cure juntaram-se a atores e escritores para assinar uma carta de protesto contra a utilização indevida das suas obras artísticas.

E quando os autores de temas tão icónicos como Dancing Queen, Creep ou Boys Don’t Cry estão contra, o melhor a fazer é parar um pouco e refletir sobre o caminho que tudo isto está a tomar e a uma velocidade estonteante.

Milhares de artistas subscreveram a carta, sendo mais um aviso público sobre os perigos das ferramentas de IA que conseguem gerar imagens, músicas e textos sintéticos depois de serem treinadas com vastas quantidades de obras criadas por seres humanos.

O uso não licenciado de obras criativas para o treino de IA generativa é uma ameaça grave e injusta aos meios de subsistência das pessoas por detrás dessas obras e não deve ser permitido.

Afirma a petição, citada pela Associated Press.

Entre os signatários, destacam-se Björn Ulvaeus, do supergrupo sueco ABBA, Robert Smith, da banda The Cure, e Thom Yorke com os seus colegas dos Radiohead. Também aderiram escritores como Kazuo Ishiguro, romancista vencedor do Prémio Nobel, e atores como Julianne Moore, Kevin Bacon e Rosario Dawson.

O aclamado romancista James Patterson assinou a carta, assim como outra carta aberta no ano passado, organizada pela Authors Guild (Associação de Autores dos EUA). Esta associação mais tarde moveu um processo judicial contra empresas de IA, que ainda está a decorrer num tribunal federal de Nova Iorque.

Direitos de autor em causa

A verdade é que a crescente utilização de obras de arte, peças culturais e músicas conhecidas para treinar ferramentas de inteligência artificial tem gerado um intenso debate sobre a proteção dos direitos de autor.

Ferramentas de IA generativa, como as que produzem imagens, textos e músicas, dependem de vastas quantidades de dados para “aprender” e gerar novas criações. Esses dados, muitas vezes, incluem obras criadas por artistas, músicos e escritores, levantando questões éticas e legais sobre o uso dessas criações sem autorização ou compensação.

Os direitos de autor conferem aos criadores o controlo exclusivo sobre o uso das suas obras, incluindo a reprodução, distribuição e adaptação das mesmas. Quando as suas criações são utilizadas para treinar IA sem o seu consentimento, esse princípio é violado, gerando uma série de preocupações dentro da comunidade criativa.

Por isso, os artistas temem que as suas obras sejam exploradas sem que recebam qualquer tipo de compensação financeira, enquanto as empresas tecnológicas lucram com a utilização dessas criações para desenvolver modelos de IA.

Perigo de imitações

Uma das principais preocupações prende-se com o facto de estas ferramentas de IA poderem gerar conteúdos que, em alguns casos, imitam diretamente o estilo de um criador específico. Isto não só prejudica os rendimentos dos artistas como também dilui a sua marca e identidade criativa.

A criação de novas obras que parecem ser “inspiradas” em trabalhos já existentes, mas que não têm qualquer ligação direta ao autor original, levanta questões sobre plágio e originalidade.

A resposta da indústria criativa tem sido clara: muitos artistas, músicos e escritores têm vindo a exigir uma maior proteção legal e transparência por parte das empresas que desenvolvem IA. Várias associações, nos EUA, e diversas entidades de gestão de direitos autorais na Europa, têm movido ações judiciais contra empresas de IA que utilizam obras criativas sem autorização.

No entanto, a regulação sobre o uso de obras protegidas para treinar IA ainda está a ser discutida, tanto nos EUA como na União Europeia, com o objetivo de garantir que os direitos dos criadores sejam respeitados. A solução poderá passar por um equilíbrio entre o avanço tecnológico e o respeito pelos direitos de autor, assegurando que os criadores não são explorados em nome da inteligência artificial. Mas ainda é um caminho longo.

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