O AtlasCAR é um protótipo de um projecto que visa auxiliar os condutores, reduzindo assim a sinistralidade rodoviária. Este inovador projecto está sediado no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, onde começou nos anos 90 por ser uma tese de doutoramento do Professor e Engenheiro Vítor Santos.
Com o avançar do tempo e da tecnologia que tem vindo a ser desenvolvida por esta equipa, o ATLAS tem vindo a angariar diversos troféus ao longo de dez anos no festival nacional de robótica. Após esta breve introdução passo agora à entrevista efectuada ao Professor e Engenheiro Vítor Santos após a palestra dada no ENEI’12:
Pplware: O que levou à criação deste projecto?
Prof. Vítor Santos: Ora, foi o culminar de toda uma preocupação com a robótica móvel, que começou com o meu doutoramento nos anos 90 e onde a partir de 97/98 tivemos os primeiros trabalhos com a robótica móvel que nos levou à participação em diversas competições, sendo estas consideradas o chamariz. Quando os desafios das competições ficaram atingidos criámos desafios novos ao ir para a escala real. A ideia principal e a motivação é reduzir os acidentes, ajudando o condutor tornando-se numa espécie de co-piloto muito mais inteligente que um GPS normal.
Pplware: Vimos na palestra que existem muitas tecnologias desenvolvidas por vós, Qual a tecnologia que deu mais luta a desenvolver? Terá sido o Scanner 3D?
Prof. Vítor Santos: Talvez provavelmente essa é a mais antiga delas todas, porque a percepção do espaço tri-dimensional é fundamental para fazer navegação e planeamento, temos que saber se o espaço à frente está ou não livre para saber se o podemos ocupar. Esta tecnologia inicialmente nem foi pensada para ser colocada num automóvel. O nosso maior problema é a falta de capacidade de processamento em tempo real de tanta informação vinda dos diversos sensores como o laser velodime que gera mais de um milhão de pontos por segundo. O desafio que considero que resume os nossos problemas é sem dúvida a calibração e a integração sensorial, devido à vasta gama de sensores utilizados.
Pplware: O que difere o Atlas de todos os outros veículos autónomos?
Prof. Vítor Santos: Bom é Português!
Pplware: Tecnologia totalmente Portuguesa?
Prof. Vítor Santos: Sim, até agora tem sido feita por estudantes, investigadores e técnicos Portuguese.
De facto é difícil comparar, que nós também não sabemos exactamente o que é que os outros têm, como deve de imaginar há muitas coisas que não se diz quando se pensa em carros autónomos. Ainda à dias vinha na revista da IEEE Americana que enumerava quatro ou cinco carros autónomos no mundo, entre eles o da Google, um Italiano, um Alemão, um Chinês e um Francês e sei que em Espanha existem algumas coisas. Só não falava do nosso ainda, porque o nosso ainda não é verdadeiramente autónomo, mas para lá caminha. Uma coisa que eu posso afirmar, como ainda não vi nenhum dos outros, daquilo que é possível ver, é o carácter misto da condução do carro, ou seja um carro conduzido por uma pessoa, por um computador ou por ambos, sendo possível a qualquer momento comutar. É esta característica que o torna distinto de todos os outros.
Pplware: Uma outra questão que me surgiu agora, foi será que podemos ver esta tecnologia aplicada a outros aparelhos?
Prof. Vítor Santos: Sim, em sentido lato sim, nós aqui estamos interessados no apoio ao condutor, mas isto são tecnologias de percepção, planeamento e actuação, mas a percepção multi sensorial pode ser aplicada a sistemas de monitorização, vigilância, por exemplo na logistica portuária, que é muito complexa, os sistemas autónomos com capacidade de percepção avançada, podem ajudar quando as condições meteorológicas não são as melhores. Esta tecnologia pode também ter aplicação militar, sem ser para a guerra, com carácter de segurança, também podendo ser utilizada na protecção civil. Já existem contactos dentro destas instituições para podermos aplicar esta tecnologia nestas frentes.
Pplware: Só me resta agradecer a simpatia e pronta disponibilização do Professor para esta breve entrevista.
Mais uma vez, deixo o nosso muito obrigado ao Professor Vítor Santos.
E sem mais demoras deixo um dos vídeos de demonstração deste projecto em acção: