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Dia Mundial do IPv6 – Entrevista a Carlos Friaças

Tal como anunciamos em Janeiro deste ano (ver aqui), realiza-se hoje o World IPv6 Launch” – Dia Mundial do IPv6. Para celebrar este dia, convidamos Carlos Friaças, especialista neste área, a responder-nos a algumas questões sobre o “novo” protocolo da Internet.

Entrevista a Carlos Friaças

[Pplware] De uma forma geral, o que é o IPv6?

É a evolução para uma Internet que recorre a endereços de 128 bits, em vez de recorrer apenas a 32.

[Pplware] Qual a importância do IPv6 e quais as vantagem que oferece comparativamente ao IPv4?

São duas questões. A importância do IPv6 do meu ponto de vista está  principalmente ligada à viabilidade do crescimento da Internet  recorrendo a endereços públicos. São normalmente referidas algumas  vantagens, como a segurança, mobilidade, etc, mas

fundamentalmente a grande vantagem é realmente o maior espaço de endereçamento público. E  dessa diferença resulta que a gestão e planeamento da componente de rede ficam simplificados.

[Pplware] O IPv6 é mesmo necessário?

Sim, sem dúvida. Em todas as redes/serviços que tenham um endereço  “público” actualmente na Internet IPv4. Se algumas redes decidirem não o fazer porque não sentem nem  previsivelmente sentirão a escassez de endereços públicos IPv4, essa decisão terá impacto sobre todas as outras restantes redes públicas (no resto do mundo), porque a manutenção da conectividade será empurrada para soluções de tradução — onde se tem que observar a sua complexidade, custo e desempenho.

[Pplware] Qual o estado do IPv6 actualmente em Portugal. Acha que as empresa estão preparadas para esta mudança?

O estado do IPv6 em Portugal sai bem na fotografia, se comparado em alguns indicadores com outros países europeus. No entanto a questão das empresas é a questão chave, e neste momento seria demasiado optimista dar uma resposta positiva. Podemos dizer que as empresas dos  outros países também não estão preparadas, mas isso não ajuda realmente a resolver o problema em Portugal. Um dos eixos do problema é a formação. A maioria dos profissionais foi  treinada ao longo dos anos para “sobreviver” com tecnologias como o  NAT, e não estará provavelmente preparada para uma mudança de paradigma em termos de disponibilidade (i.e. abundância) de endereçamento público.Esta é uma das questões que o projecto 6DEPLOY-2 tenta dar resposta (www.6deploy.eu).

[Pplware] Quais os entraves que por exemplo uma empresa pode ter na implementação do IPv6?

Para além da questão da formação, a oferta de conectividade IPv6 por  parte dos Internet Service Providers ainda é algo limitada. Por isso é importante colocar o IPv6 como característica obrigatória dos serviços quando se elaboram consultas ao mercado. Em alguns casos, serão também  encontradas barreiras em alguns equipamentos (hardware) ou “appliances” (software). O conselho habitual é dotar de capacidade IPv6 os elementos da arquitectura que não a possuem quando se esgota o ciclo de vida útil e é necessário proceder a nova aquisição/consulta de mercado.

[Pplware] O IPv4 será sempre mantido?

É uma pergunta difícil. Pessoalmente eu diria que nos próximos 10 a 20 anos será difícil que muitas redes deixem de usar por completo o  protocolo IPv4.

[Pplware] E os equipamentos que não têm suporte para IPv6, terão a capacidade de “comunicar” com equipamentos que estão ligados em redes que apenas têm IPv6?

Só recorrendo a mecanismos de transição (ou tradução) externos a eles próprios. Mas não é um cenário de todo desejável. E coloca-se sempre a questão de que lado deverão estar esses mecanismos: se do lado de quem não tem nenhum IPv6 ou do lado de quem já o implantou no seu ambiente.

[Pplware] O tamanho de um endereço IPv6 não afectará a autonomia da bateria de um dispositivo móvel, já que este tem de processar a informação que vem dentro dos pacotes IPv6?

Eu não sou especialista em mobilidade nem em dispositivos móveis, mas a diferença entre um cabeçalho de um pacote IPv6 e o de um pacote IPv4 não se limita aos endereços de origem e destino de 128 ou 32 bits. O cabeçalho no IPv6 foi simplificado e existem outros factores como a mudança do paradigma da fragmentação que podem afectar também essa comparação.Mas de qualquer forma um dispositivo móvel idealmente receberá um endereçoIPv6 público e um endereço IPv4 (público ou privado) e terá que lidar de igual modo com as duas versões do protocolo.

[Pplware] Porque se passou do IPv4 para o IPv6..Porque não se optou pelo IPv5?

É uma questão do processo de normalização (no seio do IETF). Mas o uso dos 128 bits surgiu no processo IPng (Internet Protocol next generation) que posteriormente foi rebaptizado para “IPv6”. Não é talvez do conhecimento público, mesmo entre os profissionais do ramo, mas houve portugueses a trabalhar em Portugal envolvidos nas  primeiras experiências. No Internet Protocol Journal Vol.2 No.1  encontra-se essa referência, de uma experiência (recorrendo a túneis)  entre a Universidade de Lisboa, a Cisco Systems e o Laboratório de Pesquisa Naval dos E.U.A. E o suporte IPv6 no kernel Linux foi também obra de um português.

[Pplware] Há algum repositório online onde possamos encontrar informação sobre IPv6?

Existem vários. Eu destacaria:

Em nome do Pplware, gostaria de agradecer a amabilidade e disponibilidade do especialista Carlos Friaças em informar os nossos leitores.

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