A receita foi simples: fazer umas músicas com recurso à inteligência artificial (IA), colocá-las em plataformas de streaming e criar um exército de bots para conseguir audiências fantásticas. Ganhou milhões, mas acabou apanhado.
A fraude tem “perna curta”, até com IA
Nos últimos anos, o avanço da tecnologia, entre elas a IA e a crescente popularidade das plataformas de streaming de música têm permitido a milhares de artistas e criadores partilharem o seu trabalho com o mundo.
Mas, ao mesmo tempo, também surgiram oportunidades para fraudes e esquemas, como o caso de Michael Smith, um músico de 52 anos, que foi preso por conseguir faturar dez milhões de dólares com esquemas fraudulentos de audiência falsa, utilizando robôs para inflacionar artificialmente os números de streams.
O indivíduo tornou-se uma das figuras mais faladas no universo do streaming musical devido à forma engenhosa (e ilegal) como conseguia manipular as plataformas.
O esquema consistia em criar uma série de contas falsas em serviços populares de streaming, como o Spotify, Apple Music e outras, e utilizar bots para simular audições repetidas das mesmas músicas, as tais criadas com tecnologia IA.
Com milhões de streams gerados por estes bots, conseguiu receber grandes somas de dinheiro, visto que a maioria das plataformas de streaming pagam aos artistas com base no número de vezes que as suas faixas são ouvidas.
Como funcionava o esquema?
O plano foi relativamente simples, mas eficaz. As músicas eram criadas com recurso à inteligência artificial e depois carregadas em plataformas de streaming. Entrava então em ação o “exército” de bots previamente criado e que reproduziam as suas próprias faixas em loop, multiplicando o número de streams e, consequentemente, os seus rendimentos.
Para que o esquema funcionasse sem levantar suspeitas durante tanto tempo, Michael Smith distribuía os streams falsos por várias contas e faixas diferentes, misturando-os com ouvintes reais, o que dificultava a deteção do esquema por parte das plataformas.
A deteção destes tipos de fraudes tem sido um desafio constante para as empresas de streaming, que enfrentam a difícil tarefa de diferenciar entre os ouvintes legítimos e os robots programados para inflacionar as audiências.
No entanto, a investigação sobre este caso específico começou quando algumas plataformas detetaram padrões anómalos de reprodução nas contas associadas ao homem. Estes padrões incluíam um número elevado de streams num curto espaço de tempo em faixas pouco conhecidas, o que levantou bandeiras vermelhas junto dos sistemas de monitorização.
As consequências legais
Após meses de investigação, as autoridades conseguiram reunir provas suficientes para prender Smith, que agora enfrenta várias acusações de fraude financeira e manipulação de plataformas de streaming. Se for condenado, poderá enfrentar penas severas de prisão, além de ser obrigado a devolver o dinheiro obtido de forma fraudulenta.
Este caso levanta importantes questões sobre a segurança e a integridade das plataformas de streaming, que, apesar dos seus avanços tecnológicos, ainda são vulneráveis a este tipo de manipulação.
Estima-se que fraudes como esta custem milhões de dólares anualmente à indústria musical, prejudicando não só as plataformas como também os artistas que dependem de streams legítimos para gerar rendimento.
O impacto na indústria musical
Casos como este têm consequências profundas para a indústria da música, sobretudo porque minam a confiança nos sistemas de remuneração baseados no número de streams.
Muitos artistas pequenos e independentes, que lutam para ganhar notoriedade e fazer crescer o seu público, veem-se prejudicados quando figuras fraudulentas inflacionam artificialmente os seus números. O uso de bots para criar audiências falsas reduz o valor dos streams legítimos, prejudicando aqueles que dependem do apoio real dos ouvintes.
Nos últimos anos, as plataformas de streaming têm vindo a implementar novas medidas de segurança para combater estas fraudes, como algoritmos mais avançados para detetar atividades suspeitas e contas falsas. Mas este caso serve como um lembrete de que, apesar dos esforços, a fraude digital continua a ser uma realidade, e que a batalha entre os criminosos digitais e as plataformas tecnológicas está longe de terminar.