O governo do PSD/CDS de Durão Barroso permitiu-lhe que continuasse à frente do Banco de Portugal, desde que viesse de tempos a tempos alertar os portugueses (só os que pagam impostos) de que é preciso apertar o cinto.
E Vítor cumpriu meticulosamente a sua função, defendendo com unhas e dentes o Discurso da Tanga, versão I, de Durão e Manela Leite.
Santana e Bagão mantiveram-no no Poder e ele também cumpriu.
Agora, está de novo o seu PS no Poder e Sócrates fartou-se de fazer promessas de que não havia aumento de impostos e haveria aumento de empregos e alteração da Código do Trabalho do Bagão. Eram promessas só para serem metidas na gaveta mais tarde.
Mas Sócrates não quer assumir a responsabilidade da versão 2 do Discurso da Tanga já antes das eleições autárquicas. Por isso pediu ao seu amigo Vítor, que viesse ele a público dizer que isto está mesmo mal e apelar ao Presidente da República para intervir a convencer os portugueses (sempre os mesmos do costume, claro) a apertarem ainda mais o cinto.
Alguém ouviu o Sr. Vítor apelar a que não construíssem 10 estádios de luxo do Euro 04, pagos quase exclusivamente pelo Estado e autarquias e aprovados por Sócrates como Ministro do governo Guterres?
Alguém ouviu o Sr. Vítor apelar aos governos para que não comprassem submarinos por causa da crise? Alguém ouviu o Sr. Vítor pedir aos governos que não comprassem ou adiassem a compra de centenas de blindados e helicópteros de guerra de último modelo?
Alguém ouviu o Sr. Vítor a chamar a atenção que o TGV é um luxo de centenas de milhões para o estado do País?
Alguém ouviu o Sr. Vítor apelar aos governos para serem inflexíveis contra a gigantesca fuga aos impostos dos que mais ganham e que atinge milhares de milhões?
Alguém ouviu o Sr. Vítor pedir aos governos que acabem com a isenção de impostos sobre os milhões ganhos na especulação bolsista de acções?
Alguém ouviu o Sr. Vítor apelar aos senhores administradores das grandes empresas, pagos a valores iguais ou superiores aos dos países ricos, para que dêem o exemplo baixando os seus chorudos vencimentos e prescindindo das dezenas de milhares de contos de prémios anuais?
Etc, etc,
Não, ninguém ouviu!
Ouviu-se agora o Sr. Vítor para fazer um frete ao seu amigo Sócrates porque este fez promessas que não eram para cumprir e agora era preciso desenrascá-lo dizendo que «isto está pior do que se pensava».
No País mais pobre da U.E., com os mais baixos salários de todos, com mais de 2 milhões de pobres e 200 mil com fome e o maior fosso entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres nas estatísticas da U.E., o governador do Banco de Portugal apenas tem o papel triste de apelar para aos que já estão sobrecarregados de impostos que paguem ainda mais.
Sr. Vítor, ao menos seja coerente, apele publicamente aos governos que, devido à crise, o seu salário de vários milhares de contos mensais, deveria ser diminuído…