Tem sido regra por parte da Apple e da Google lançarem uma nova versão dos seus sistemas operativos móveis todos os anos. Por muita especulação e rumores que possam existir a verdade é que estas empresas conseguem esconder muito bem as suas evoluções ao nível de software. Dito isto a nova versão do Android foi anunciada na Google IO que se realizou em San Francisco nos USA. O nome já era conhecido, Jelly Bean, mas aquilo que oferece em termos de melhorias foi substancialmente superior ao que o mundo tecnológico estava à espera.
Está na hora de conhecermos o Android 4.1.
Project Butter
Esta é, para mim, a feature mais importante do Jelly Bean, e sendo um pouco ousado, talvez uma das mais importantes já alguma vez introduzidas no Android. Basicamente toda a interação com o telemóvel passa a ser suave como manteiga (daí o butter como nome do projecto).
Passo a explicar: foram introduzidas dois melhoramentos:
- Introduziram um terceiro buffer no pipeline do motor gráfico. É como se tivéssemos uma auto-estrada com 2 vias e com muito tráfego em que se lhe acrescentou uma terceira via sendo possível passarem mais carros ao mesmo tempo. O mesmo acontece aqui, e a Google tentou optimizar o SO em conjunto com o Triple Buffering e VSYNC de maneira a que o ecrã esteja quase sempre a 60fps dando a sensação de fluidez e suavidade nas transições.
- A Google desde o lançamento do Galaxy Nexus e do ICS tem investido muito no Interactive governor para ser o escalonador principal do CPU e introduziu uma nova funcionalidade para diminuir ainda mais a lag/latência das nossas acções: quando o sistema reconhece um touch input o governor aumenta instantaneamente a velocidade do CPU. Eu já tinha este patch no meu Kernel há alguns meses e andei a testar esta funcionalidade sem saber da sua importância, mas verdade seja dita que ajuda bastante na utilização do sistema. É possível que gaste um bocadinho mais de bateria (talvez na ordem dos 2-3% a mais) mas acaba por não se notar e os ganhos reais de performance são imensos.
Se o salto de performance entre o Gingerbread e o Ice Cream Sandwich foi enorme, o salto para o Jelly Bean é GIGANTE e é impossível de explicar, só experimentando. As aplicações abrem instantaneamente, os live wallpapers já não têm qualquer lag, scrolling é suave… etc. Em números de benchmarks ganhei 5fps em comparação com o ICS, o que é óptimo e notável, ainda por cima num GPU tão antigo como o do Galaxy Nexus.
Google Now
Quando a Apple lançou o Siri ao mundo todos nós estávamos à espera que outras tantas empresas seguissem esse caminho e lançassem “clones” dessa funcionalidade. A Samsung criou o S-Voice para o Galaxy S3 (é uma funcionalidade horrível), e agora a Google. Mas desengane-se, o Google Now é muito mais que uma imitação do Siri, aliás, é consideravelmente diferente. O Google Now divide-se mais ou menos entre uma vertente de busca por voz e uma vertente de “assistente pessoal”.
Já era tempo da Google fazer uso da sua poderosa base de dados que tem crescido ao longo dos anos devido aos vários serviços que vai lançando (motor de busca, Google Maps, Latitude…) e é no Google Now que estes são utilizados devidamente para fornecer informação aos utilizadores ao longo do dia.
Aconteceu-me estar a entrar no comboio para ir para Lisboa e receber uma mensagem da aplicação a dizer “Faltam X minutos para chegar ao destino.”. É um pouco assustador, pois eu não introduzi nenhuma informação a dizer onde estava nem para onde ia, mesmo assim o Google Now sabia o que eu ia fazer e já tinha calculado o tempo que eu ia demorar para lá chegar.
Esta tecnologia recorre a toda a informação guardada pela Google pelos serviços que enumerei há pouco. Isto é só uma ponta do iceberg, pois o Google Now é muito mais poderoso e ainda não tive oportunidade para explorar mais.
A sua vertente de comandos por voz é um passo em frente de todos os mecanismos de reconhecimento de voz. Faz uso do motor de busca Google, percebe-nos com muita facilidade, a voz que por vezes comunica connosco, é muito menos mecânica do que, por exemplo, a do Siri e os resultados que nos aparecem são muito fidedignos.
Suporta uma série de línguas, nomeadamente Inglês, Francês, Espanhol, Português (Brasil), polaco, holandês, turco, italiano, alemão, árabe, etc. Tal como o Siri é daquele tipo de serviços que são usados em raras ocasiões, ou para fazer um pouco de show-off aos amigos, mas apesar de tudo acaba por ser útil e fácil de utilizar.
Notificações
A famosa barra de notificações do Android teve direito a um refresh, tanto a nível visual como em termos de funcionalidade. Em termos de estética está claramente mais bonita e mais de acordo com o resto do tema do sistema.
Mostra as horas, o dia da semana e a data e tem um pequeno botão para limpar a sua área de notificações. Algumas notificações passam a ter o dobro do tamanho o que facilita e muito a sua utilização sendo que por vezes nem precisamos de abrir as próprias aplicações, pois toda a informação é já apresentada (casos de se receber uma mensagem ou um email).
A aplicação do Google+ tem integração directa com o novo layout da barra de notificações sendo possível interagir, ver posts, ver imagens e responder directamente da notificação que aparecer nesta zona.
Estas foram as três grandes alterações nesta nova versão do Android. Para além dessas houve outras mais secundárias:
- Botão multi-tasking com 0 lag
- Preview de fotografias directamente da câmara com 0 lag e com possibilidade de apagar fotos na hora utilizando multi-touch
- Aplicação do teclado melhorada com reconhecimento de voz em modo offline
- Interacção no home screen melhorada ao estilo do iOS em que os ícones se ajustam automaticamente conforme a nossa orientação. Widgets também se ajustam automaticamente
- Outros melhoramentos em aplicações Google como o Google Maps, Google Play, Face unlock, NFC etc
Tenho usado o Jelly Bean desde que foi anunciado no Google IO e tem surpreendido cada vez mais. Respira solidez, suavidade e maturidade. Refina o tema introduzido com o Ice Cream Sandwich e torna-o homogéneo. É um update muito maior e muito mais importante do que foi do 2.2 para o 2.3, por isso a Google está de parabéns pela inovação e pela implementação conseguida.
É importante também referir que está disponível deste esta noite a versão 4.1.1 nos repositórios da Google para os vários dispositivos Google. Os respectivos binários também foram lançados por isso quem quiser compilar o Jelly Bean de origem já o pode fazer.