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Análise: Wolfenstein Youngblood (Xbox One)

Um dos melhores e mais viciantes jogos do século passado foi, sem sombra de dúvidas, Wolfenstein 3D. Quem teve a oportunidade de o jogar na altura, sabe do que falo…

Felizmente, Wolfenstein não morreu aí e neste novo Século a série manteve-se viva, em abono da verdade, com boa saúde. Após o lançamento de The New Colossus em 2017, chega-nos agora Youngblood e o Pplware já experimentou.


Youngblood surge após os eventos decorridos em Wolfenstein: The New Colossus, também desenvolvido pela MachineGames. Foram eventos que levaram assim à morte de Hitler às mãos do herói da altura (BJ Blazkowicz). Contudo, a morte do chanceler alemão não significou o final do império nazi. Nesse sentido, na Europa, o domínio alemão continua aparentemente sem fim.

O domínio do império nazi sem fim à vista em Wolfenstein Youngblood

Entretanto, Blazkowicz e a sua esposa, morando no interior dos Estados Unidos, criaram a sua família de 4 (com duas filhas: Jess e Sophie) numa aparente calma, pois ao longo dos anos as duas filhas foram sendo treinadas para qualquer eventualidade.

Parece que essa eventualidade aconteceu. Certo dia, BJ desaparece e segundo pistas encontradas no sótão de casa, as filhas suspeitam que tenha ido para a Europa (Paris) com um objetivo misterioso. As duas partem então atrás das pisadas do pai para o tentar encontrar com vida.

Este pormenor será também o mais polémico do jogo pois, não nos podemos esquecer que Jess e Sophie são apenas duas raparigas, sem preparação militar adequada para combater exércitos de nazis fortemente armados, auxiliados por drones e mechs fortemente blindados. É bastante forçado…

A MachineGames (em colaboração com a Arkane Studios) aproveitou bem o facto das heroínas do jogo serem duas irmãs e assentou a jogabilidade de Youngblood precisamente nessa ligação de sangue entre ambas. São variados os pontos no jogo onde essa ligação se demonstrará ao longo do jogo.

Chegadas a Paris as duas irmãs procuram de imediato a Resistência Francesa (com sede nas Catacumbas da capital francesa) a partir de onde começam as missões propriamente ditas.

Paris, sob ocupação alemã, encontra-se dividida em vários sectores que terão de ser completados/limpos pelas duas irmãs. Só dessa forma conseguirão reencontrar o seu pai, pelo que encetam uma autêntica limpeza de Paris, sempre juntas. Este é outro ponto crucial do jogo: as irmãs nunca se separam.

Uma aposta na vertente multiplayer cooperativa (Xbox One, PS4 ou PC)

E é com base neste ponto que o jogo ganha vida, pois bebendo do facto de nunca se separarem, o jogo aposta claramente numa vertente experiência multiplayer cooperativa que se revela a espaços, bastante interessante.

Um dos aspetos do jogo onde a cumplicidade entre irmãs é mais visível é claramente o sistema de Vidas Partilhadas. As Vidas Partilhadas (Shared Lives) consistem num máximo de 3 vidas (em cada momento) que podem ser consumidas pelas irmãs caso estejam prestes a “bater a bota”. Por outras palavras, quando uma das heroínas estiver caída em combate, se a irmã não a conseguir salvar num curto espaço de tempo, gasta-se uma Vida Partilhada. Essas vidas partilhadas podem ser adquiridas no próprio jogo, especialmente em caixotes escondidos nos cenários que requerem ambas para serem abertos.

Trata-se da derradeira forma de prolongar a vida no jogo, mas que não se fica por aí. Em situações normais, quando uma irmã cai em combate, tem um espaço de alguns segundos de vida até que a irmã possa chegar e prestar-lhe assistência. Algo como o apoio dos camaradas em Battlefield V.

Por outro lado, cada irmã tem ainda a possibilidade de, de tempos a tempos, fazer um peep (aceno) à outra que permite fazer refill, ou da barra da saúde ou da barra de armadura. Em determinados momentos isso é extremamente importante, até mesmo para evitar o consumo de Vidas Partilhadas…

Exigência nas missões

As missões da história principal são variadas quanto baste e exigentes também o suficiente. Isto, pois, existe um algoritmo, por vezes incompetente, de nivelação dos inimigos de acordo com o nosso nível.

Contudo, a quantidade de missões paralelas (obtidas nas Catacumbas) ou de Eventos gerados durante o jogo que são uma excelente forma de manter as perspetivas em aberto durante a ação. Por exemplo, podemos encontrar-nos numa missão de derrubar o Brother 1 (um dos generais alemães que dominam Paris e que temos de eliminar) e receber instruções para eliminar engenheiros alemães noutra zona desse cenário. Além da diversidade traz ainda uma certa liberdade de movimentos e escolhas aos jogadores.

Estes eventos são importantes ainda, pois permitem assim aos jogadores obterem mais EXP. Além disso, também vale o dinheiro para poderem melhorar os seus arsenais e habilidades. São objetivos cruciais para ultrapassar alguns inimigos mais complicados que se encontram então em determinadas zonas.

Uma vez que esses eventos surgem no decorrer das missões, Youngblood deixa a clara sensação de insuficiência. Deveriam assim haver mais formas de comunicar com o outro jogador (que controla a outra irmã) para trocas rápidas de ideias/ações/ordens e melhor coordenação.

Voltando às duas irmãs, outro pormenor que no decorrer do jogo se revelou como uma tremenda falta de ambição foi o facto de a equipa de desenvolvimento ter decidido manter as duas irmãs muito semelhantes em termos de “Classe”. Podem usar as mesmas armas, evoluir praticamente as mesmas habilidades… uma oportunidade perdida para criar habilidades distintas e que proporcionassem jogabilidades realmente únicas, mas que se complementassem.

Um excelente trabalho dos atores

De uma forma um pouco ténue a MachineGames tentou atribuir um pouco de carisma às duas irmãs. Isso é revelado particularmente nas trocas de galhardetes entre elas. É assim um reflexo do excelente trabalho dos atores que deram voz a Jess e Soph, mas nunca chega a ser memorável.

Tal como referimos acima, as Catacumbas de Paris são o centro nevrálgico da Resistência francesa. É onde passamos os tempos entre missões melhorando armas, equipamentos, recolhendo munições, adquirindo missões paralelas, ou mesmo jogar o ao Wolfenstein 3D original. Brutal o efeito hipnótico e nostálgico de se voltar a jogar um jogo que nos viciou tanto há mais de 2 década.

O sistema de melhoramento de armas é bastante composto e equilibrado em termos de conteúdos. No entanto, em abono da verdade, é um pouco difícil de adquirir, particularmente por quem jogue solo. E de repente surge o receio de… micro-transacções.

Quanto à evolução das habilidades, estas são feitas de acordo com o consumo de pontos de Experiência, ganho em combate. Existem várias categorias (Físicos, Força) e um dos mais interessantes é o sistema de cloaking. Apesar de ter um tempo limitado de invisibilidade esta habilidade, permite algumas manobras táticas interessantes. Exemplo disso é poder passar despercebido por uma patrulha fortemente armada até uma metralhadora estática nas suas costas. Assim, a partir daí, basta varrê-los do mapa. No entanto, não se deixem entusiasmar com o sistema de cloaking, já que é praticamente impossível completar um cenário sem trocas de tiros.

Muitas armas à disposição

E as trocas de tiros são uma constante em Youngblood e apesar da maior parte dos confrontos serem pouco memoráveis, existem alguns bastante exigentes. Além dos inimigos já conhecidos em The New Colossus, surgem agora alguns novos com armaduras mais fortes, ou melhor, mais camadas de armaduras que os tornam mais difíceis de derrubar.

Felizmente a quantidade e qualidade das armas à disposição é suficiente para encontrarmos assim uma forma de os derrubar. No entanto, mas muitas vezes iremos ver as mensagens de “Shared Lives Lost”.

Outro exemplo de inimigos extremamente complicados de derrubar são os mechs gigantescos, que surgem em determinadas zonas da cidade. Os combates contra esses gigantes são regra geral combates intensos, duradouros. Dessa forma, exigem conhecer bem as armas e habilidades de cada irmã.

Como referimos ao início, o jogo foi claramente construído numa vertente mutiplayer cooperativa. Dependendo das opções selecionadas ao início, um amigo pode ligar-se ou desligar-se do nosso jogo a qualquer momento. Este aspeto funciona bastante bem e uma das mais-valias destas experiências é que a EXP e Loot adquiridas podem ser trazidas para o nosso “singleplayer”.

Contudo, existe um efeito estranho do jogo ser orientado para se jogar a dois. Quando jogamos a sós, não existe uma forma de se fazer Pausa. Podemos ir para o menu de Opções, mas o jogo continua por detrás e muitas vezes regressamos tarde demais.

Uma palavra final para o drop-in, drop-off implementado que funciona bem e em momento algum tive problemas em entrar (ou receber) convidados para jogos online. E em abono da verdade, convém referir que é bastante melhor jogar com alguém do que com a IA, algo parva em dados momentos.

Veredicto

Wolfenstein: Youngblood é, acima de tudo, um jogo muito virado para o multiplayer cooperativo que só não assume um nível de excelência por alguma falta de ambição e criatividade. É, contudo, uma escolha possível para quem goste da série e tenha um desejo ardente de matar nazis.

Wolfenstein Youngblood

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