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E chegou o DLC World Cup Russia 2018

A poucos dias do início do Mundial de Futebol a realizar na Rússia, e tal como já tinha sido indicado aqui, eis que nos chega às mãos o DLC relativo ao maior evento futebolístico do planeta.

Ficámos apreensivos quanto a este lançamento desde o seu anúncio oficial pela EA Sports no início de maio mas, após termos jogado algumas partidas, o sentimento geral é de desilusão: comparando este com outros jogos alusivos a Mundiais anteriores, World Cup Russia 2018 deixa muito a desejar.


Desde o Mundial de França em 1998 que a EA Sports nos vem dando a possibilidade de jogar os jogos oficiais do Mundial de Futebol. Detendo a licença oficial da FIFA para o torneio, a gigante canadiana tem-nos oferecido, a cada Mundial, jogos completos com uma grande quantidade de seleções e com a possibilidade de disputar a fase de qualificação, seguir para a fase final e, claro está, ganhar a taça ao comando na nossa equipa favorita. Apenas por uma vez um destes jogos temáticos – o jogo relativo ao Euro 2012 – foi um DLC e, se estão bem lembrados, foi bastante criticado pelo seu pobre gameplay e falta de conteúdo inovador.

Esta lembrança gerou logo algumas reservas desde que se tornou do conhecimento público que o jogo alusivo ao Mundial 2018 também seria um DLC: o conteúdo disponibilizado neste formato muito dificilmente poderia ombrear com um jogo completo desenvolvido propositadamente para celebrar a competição. Mas nada nos preparou para o que vimos quando experimentámos o jogo pela primeira vez.

Depois de 20 anos com conteúdos que apaixonaram os fãs, a EA Sports resolveu oferecer-nos um jogo sem alma. Este DLC perde muito pelo conteúdo que não tem. Modos de jogo como a Fase de Qualificação, Story of the Qualifying, Story of the Finals e Captain Your Country estão, obviamente, ausentes deste lançamento e com essas ausências o jogo perde grande parte do seu encanto.

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Em World Cup 2018, continua a ser possível disputar a fase final do Mundial de Futebol, começando na fase de grupos e progredindo – ou pelo menos tentando – até à grande final em Moscovo. Para isso temos à nossa disposição qualquer uma das 32 nações participantes no certame, sendo possível fazer um torneio mais personalizado utilizando para isso as seleções que se encontram presentes de origem no FIFA 18. E aqui reside o primeiro problema com que nos deparamos: não podemos utilizar todas as equipas nacionais do jogo base, mas apenas as equipas que já têm o equipamento licenciado.

Esta situação não parece fazer grande sentido. Sendo a EA Sports a detentora exclusiva da licença para o jogo do Mundial, deveria ser possível utilizar qualquer seleção de FIFA 18, mesmo não tendo o equipamento oficial representado. A EA Sports deveria ter mostrado um pouco mais de empenho, licenciando os equipamentos das restantes seleções ou, em alternativa, permitindo a sua utilização no jogo. A forma como esta mecânica está implementada limita bastante o jogo e leva-nos a pensar que existem algumas deficiências na utilização da licença da FIFA por parte da produtora.

Mas nem tudo é mau e, avançando para os primeiros jogos na fase de grupos, apercebemos-nos de que estamos, realmente, nos palcos onde se vai disputar a maior competição futebolística do planeta.

O interior dos 12 estádios onde vai decorrer o torneio foi recriado ao pormenor e a atmosfera desde o início de cada jogo chega a ser electrizante, principalmente porque é alimentada pelos comentários específicos feitos para cada seleção. Isto ainda que a grande maioria dos comentários existentes seja apenas uma reciclagem dos que já existem no jogo base.

Pena é que não tenha sido recriada a prática habitual dos últimos Mundiais de Futebol de, no início de cada jogo, ser dada uma vista panorâmica do exterior do estádio. Também neste aspecto este DLC fica aquém das reais possibilidades da EA Sports.

O público também merece grande destaque. Apesar de se tratar do mesmo público presente em FIFA 18, podemos ver o detalhe dos fãs de cada equipa adornados com as cores das seleções que apoiam. Mas também aqui a EA Sports poderia ter feito um pouco mais, aproveitando para fazer cutsceenes dos fãs em Fanfests, tal como acontecia, por exemplo, nos jogos alusivos aos Mundiais de 2010 e de 2014. Há, contudo, que ressalvar o pormenor delicioso de terem incluído neste jogo o célebre festejo dos jogadores da Islândia (em perfeita simbiose com o público) no final de cada partida vitoriosa.

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O grande anticlímax do modo offline do Mundial de Futebol surge no jogo mais importante do torneio. Ainda que seja perfeitamente perceptível que estamos a jogar a final do Mundial de Futebol e de o troféu se encontrar desenhado melhor do que nunca, a celebração e o momento do levantar da Taça FIFA parecem demasiado simples e desprovidos de emoção. Mais uma vez, a gigante canadiana poderia ter aproveitado os festejos de jogos anteriores onde os jogadores e equipa técnica festejavam efusivamente no relvado. Optaram por adaptar os festejos criados para o FIFA 18, mas com uma nova taça.

Para além do Mundial offline, temos a possibilidade de jogar jogos amigáveis no modo kick-off (só com as seleções com equipamento licenciado), mas também aqui existem falhas. Em jogos anteriores, era possível escolher o tipo de jogo que queríamos jogar: no modo kick-off havia a possibilidade de disputar – de forma isolada – um jogo amigável, de qualificação, da fase de grupos ou até mesmo a final, cada um deles com o seu ambiente próprio.

No caso deste jogo, apenas podemos jogar jogos amigáveis. Trata-se, evidentemente, de uma questão menor se olharmos para a big picture mas, ainda assim, demonstrativa de alguma falta de visão e de empenho da produtora canadiana.

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Mas nem só de modos offline vive este jogo e os modos online também se encontram presentes em World Cup Russia 2018. Temos à nossa disposição o modo Ultimate Team – do qual falaremos um pouco mais à frente – e o modo de World Cup Online, semelhante às Online Seasons do FIFA 18.

No modo World Cup Online, iniciamos a nossa caminhada nos oitavos de final da competição e não na fase de grupos, ao contrário do que seria de esperar e do que acontece no modo World Cup Ultimate Team. Isto, para além de despir o jogo de uma boa parte das suas características mais competitivas, não parece fazer sentido uma vez que o outro modo online existente oferece aos jogadores a possibilidade de jogar a fase de grupos. Fica no ar a ideia de que a EA Sports produziu um DLC mais orientado para FUT e não tanto com o propósito explícito de celebrar o Mundial de Futebol.

Porém, este não é o maior problema existente no modo World Cup Online. Na nossa opinião, esse problema reside sobretudo na forma como é feito o matchmaking.

Imagine-se o cenário em que iniciamos uma competição e montamos a equipa trocando jogadores e tácticas. Iniciamos o jogo e conseguimos ganhar e passar à fase seguinte, mas – quando tentamos iniciar novo jogo – somos confrontados com uma mensagem de erro com a informação de que os planos de jogo das equipas intervenientes são demasiado diferentes e que, para prevenir um jogo injusto, o mesmo vai ser cancelado. Tentamos encontrar um novo adversário e somos novamente confrontados com a mesma mensagem de erro. O problema apenas se resolve quando fazemos reset às definições da nossa equipa para o plano de jogo default. Neste ponto, podemos montar a equipa à nossa maneira e já conseguiremos jogar. Mas, somos obrigados a fazer isto cada vez que formos fazer um jogo neste modo.

Este é um problema recorrente e transversal a todas as plataformas e que urge ser corrigido porque impacta com a jogabilidade, tornando este modo de jogo basicamente impraticável. De todas as falhas presentes neste jogo, esta é – sem dúvida – a mais grave e seria de esperar que a EA Sports, com todos os seus anos de experiência com a franquia FIFA, não cometesse este tipo de erros.

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No que diz respeito ao modo World Cup Ultimate Team, podem esperar por uma adaptação total à realidade do Campeonato do Mundo de Futebol.

Continua a ser possível disputar Squad Building Challenges, sendo os desafios iniciais uma excelente forma de se adquirirem jogadores para a equipa. Existe sempre a possibilidade de se gastarem moedas FIFA – ganhas a jogar – para fazer a abertura de packs de jogadores; neste modo de jogo, e ao contrário do que acontece em FIFA 18, as probabilidades de saírem jogadores de topo são bastante elevadas.

O modo Draft de Campeonato do Mundo também está presente. Tal como o nome indica, aqui teremos de escolher uma tática e ir selecionando os jogadores que vão sendo disponibilizados para as diferentes posições no campo (tendo sempre em conta a “química” entre estes). Este modo tanto pode ser jogado online – contra outros jogadores – ou offline – contra a consola -, sendo a recompensa proporcional ao nosso desempenho.

O modo Torneio, claro está, dá-nos a possibilidade de conquistar o troféu mais desejado: a taça FIFA de Campeão do Mundo. Este modo pode ser jogado tanto offline como online e serão dadas recompensas aos jogadores em ambas as situações. Caso passe a fase de grupos, o jogador será recompensado com um pack equivalente a 7.500 moedas de jogo; em caso de vitória no torneio, ganha-se 15.000 moedas de jogo e dois packs no valor de 7.500 moedas de jogo cada um.

A “química” entre os vários jogadores em campo também foi reformulada, tendo sido adaptada à realidade mais abrangente do Mundial de Futebol. Encontra-se baseada nas diferentes confederações: CONCACAF, CAF, UEFA, CONMEBOL, AFC e OFC. O que isto significa é que será possível fazer diferentes combinações entre os jogadores: agora é possível ligar Cristiano Ronaldo a Pogba – uma vez que pertencem ambos a países da UEFA –, ou voltar a ligar Messi a Neymar, obtendo uma química perfeita.

Um aspecto negativo no modo World Cup Ultimate Team será a falta de possibilidade de se criarem várias equipas – algo que existe nas edições normais de FIFA – e a impossibilidade de se fazerem jogos online contra os nossos amigos.

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Apesar de este DLC ter muitos aspectos positivos, existem bastantes questões – para além das já mencionadas – que desiludem, como as inúmeras incorrecções nos equipamentos das várias selecções. Um exemplo disso é o equipamento alternativo da selecção alemã – os calções são brancos e não verdes, como aparece no jogo – ou no equipamento principal da Croácia (que não tem o número dos jogadores na parte da frente). Um outro motivo de reserva reside no facto de muitas das selecções ainda não se encontrarem 100% actualizadas, o que prejudica e muito o realismo que o jogo pretende transmitir.

Infelizmente, o que mais desilude acaba por ser a escolha da EA Sports em lançar uma versão DLC e não um jogo mais completo. Este é o primeiro ano em que um jogo oficial do Mundial de Futebol não é um jogo completo e este lançamento fica irremediavelmente ensombrado por isso.

Esta decisão não caiu bem junto da comunidade de fãs dos modos offline / singleplayer, que se vêm assim desprovidos de uma parte substancial do conteúdo a que a EA Sports já os havia habituado. Esta desilusão foi ainda ampliada pelo facto de se ter criado uma enorme expectativa em relação ao que poderia ser um jogo completo alusivo ao Mundial de Futebol, pela primeira vez nas consolas de nova geração.

O Mundial de Futebol é uma competição diferente das restantes uma vez que envolve a quase totalidade das nações do planeta e lançar um jogo que pretende representar a diversidade deste evento não disponibilizando essa mesma diversidade é um contrassenso e, na nossa opinião, uma péssima decisão. Fazer isto com um jogo cujo lema é “The World’s Game” é ir contra tudo aquilo que a EA Sports afirma que a franquia FIFA representa.

O Mundial não diz apenas respeito às grandes selecções como Alemanha, Argentina, França, Espanha, Brasil ou Portugal que se qualificam sempre. As equipas mais pequenas também têm o seu espaço e controlar uma equipa como San Marino, Uganda, Tonga ou Belize, conseguir qualificá-la e disputar a fase final é infinitamente mais divertido do que simplesmente substituir uma selecção qualificada por uma outra presente no FIFA 18 mas que não tenha conseguido o apuramento. Quase que podemos dizer que a Eletronic Arts deixou de conseguir compreender o que é o Mundial de Futebol e o que o mesmo representa para uma vasta faixa da comunidade FIFA.

Este jogo está claramente orientado para os fãs de FIFA Ultimate Team e os jogadores que se mantêm com a franquia desde os seus primórdios e que não são fãs desse modo de jogo sentem-se negligenciados. Esse mesmo sentimento tem sido patente nos vários comentários feitos nas redes sociais – Twitter e Facebook, principalmente – e nos fóruns da Eletronic Arts, com muitos utilizadores a questionar o porquê desta mudança de estratégia, questão que, na realidade, não é de todo clara.

Sobre a jogabilidade não há muito mais a comentar uma vez que não foram feitas quaisquer alterações ao gameplay de FIFA 18. Este facto é também alvo de crítica uma vez que estes jogos temáticos nos davam sempre um vislumbre daquilo que seria o jogo seguinte da série FIFA, pelo menos ao nível da jogabilidade.

Já a longevidade é risível uma vez que – terminado o Mundial de Futebol – o interesse neste jogo, quer na sua vertente offline quer na sua vertente FUT, dificilmente se irá manter. Assim, não prevemos que este DLC continue a ser muito jogado após o dia da final em Moscovo.

Infelizmente, a qualidade global deste DLC deixa muito a desejar, oferecendo poucos modos de jogo quando comparado com os modos presentes em versões anteriores, nomeadamente as versões relativas aos Mundiais de 2010 e 2014. É incompreensível a inaptidão da Eletronic Arts em utilizar a licença exclusiva que detém para o lançamento dos jogos oficiais do Mundial de Futebol fazendo muitos utilizadores questionarem-se sobre se esse mesmo licenciamento não deveria ser negociado com outras empresas.

FIFA 18 | Torneio FIFA World Cup™ 0-5 BEL – POR, 2ª Parte

Veredicto:

Apesar de muitos pontos positivos, no geral, World Cup 2018 não está ao nível de um Mundial de Futebol. Sendo um DLC e não um jogo completo, este jogo não consegue ter o encanto de edições anteriores. O jogo oferece-nos, efectivamente, uma experiência que nos coloca em cada um dos estádios utilizados para a competição mas a realidade é que – comparando com experiências anteriores – este jogo é insuficiente. As falhas existentes no que diz respeito à verosimilhança de alguns equipamentos assim como as falhas graves ao nível do matchmaking no modo World Cup Online têm impacto na apreciação geral de um jogo que podia ser bem melhor.

Dado o seu historial e dado possuir a licença exclusiva, a EA Sports podia – e devia – ter feito muito melhor do que aquilo que fez. Este é, de longe, o jogo oficial de um Mundial de Futebol que mais desilude, não valendo a pena adquirir o FIFA 18 se o intuito for apenas jogar este DLC.

FIFA 18 World Cup

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