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Análise Stray (Playstation 5)

Desenvolvido pelos BlueTwelve Studios e publicado por Annapurna Interactive, Stray é um jogo melancólico e introspetivo sobre muitos dos dilemas do nosso quotidiano, sob uma perspectiva completamente diferente.

Tivemos a oportunidade de explorar este estranho, mas no entanto, tão familiar mundo de Stray e não poderíamos deixar de partilhar convosco, as nossas impressões deste jogo felino.

Venham ver como correu a nossa aventura felina.


Nos tempos que correm, um dos condimentos mais apetecidos e procurados pelos consumidores é a inovação. E, como é óbvio, no mundo dos videojogos isto também se verifica sendo que o mercado se encontra saturado de títulos muito semelhantes, sendo uma verdadeira lufada de ar fresco quando é lançado um jogo que rompe com as jogabilidades e tendencias instituídas.

E é precisamente neste contexto que vos vimos apresentar, Stray, um jogo desenvolvido pelos franceses dos BlueTwelve Studios.

Trata-se de um jogo que, sob uma perspectiva bastante diferente (encarnamos um gato), foca a sua jogabilidade em dois aspectos que se tocam e complementam de uma forma extremamente interessante: uma jogabilidade simples e um conjunto de mensagens bastante atuais.


Mas comecemos pelo inicio. Tentando não desvendar muito da história, Stray começa com a apresentação ao jogador de uma ninhada de gatos que se encontra algures no exterior de uma muralha extremamente alta e onde, aparentemente, vivem uma existência simples e pacifica.

Numa certa manhã, a ninhada parte numa das suas incursões ao longo do seu território mas, no decorrer de uma secção do jogo onde o jogador é apresentado aos controlos básico de Stray, um dos gatinhos cai num abismo e dá por si completamente só e sem acesso ao resto da ninhada.

O único caminho é em frente e é assim que o bichano entra na cidade (ou num dos distritos da cidade) onde a ação decorre.

Desde cedo no jogo percebemos que esta cidade é composta por várias zonas, nomeadamente, distritos de vários estratos sociais e o gatinho foi cair bem no meio do estrato mais pobre. Uma espécie de bairro de lata, habitado por… robots.

É enquanto investiga esse bairro de lata que o nosso personagem felino trava conhecimento com os vários robots habitantes locais e se vai apercebendo das suas histórias individuais, da criação da cidade e do passado que levou ao estado atual da metrópole. De certa forma, é esse conhecimento que vamos adquirindo que nos vai transmitindo também, um conjunto de mensagens bastante atuais em relação ao nosso quotidiano e estilo de vida real.

De um momento para o outro, esses robots, que até então nunca tinham visto um animal daqueles, acabam por se tornar nos elementos desbloqueadores do jogo, providenciando contexto à história, desbloqueando pontos de avanço no jogo, negociando itens cruciais para a aventura ou disponibilizando missões adicionais.

É ainda neste momento inicial do jogo que o nosso gato trava amizade com um pequeno drone (também ele com a sua história muito intima), o B-12, que nos acompanha durante o jogo e que serve inclusive como ferramenta extremamente útil para ultrapassar obstáculos e barreiras.

B-12, que apresenta uma história e um passado próprio e interessante, é um tradutor competente que nos permite interagir com os robots da cidade e, dessa forma, interpretar as suas mensagens, histórias ou pedidos. E pelo caminho vamos também encontrando “recordações” (memórias) que nos vão dando mais contexto ainda sobre a cidade, os robots e os seus habitantes originais.

Esta cidade é uma metrópole, fechada do exterior e onde tudo está demasiadamente regular e monótono, nós somos algo de novo, enquanto tentamos precisamente sair desta metrópole demasiado castradora. O exterior é o nosso mundo e é para lá que o nosso instinto nos leva.

O objetivo principal do nosso felino é o de encontrar uma fuga da cidade para se reunir à sua ninhada no exterior. E é essa a demanda principal do jogo. Contudo, existem várias missões adicionais, simples e relativamente fáceis, que podemos encontrar e que ajudam a criar uma visão mais abrangente deste estranho mundo e conhecer as mensagens que ele tem para nos dar.


Um dos aspetos mais interessantes de Stray é o facto de controlarmos um gato. É algo de diferente daquilo que podemos encontrar no mercado e, além dessa perspectiva diferente, isso traz alguns outros pormenores curiosos.

Essa simples mudança de perspectiva, sob os olhos de um gato (na terceira pessoa), acaba por trazer ao jogo uma forma completamente diferente de vivermos uma aventura deste género.

Não se trata de um jogo no qual seja necessário abater um inimigo, ou lutar contra um certo monstro… nada disso. Stray é um jogo sobre a solidão e o nosso estado enquanto habitantes deste mundo e que, para se avançar na aventura, se tem de usar as habilidades do pequeno gato (que passam por miar, correr, saltar, miar ou gatinhar), e competências tecnológicas de B-12.

Aliás, as habilidades do nosso gato encontram-se inteligentemente interligadas com a jogabilidade e com os diferentes quebra-cabeças que temos de ultrapassar. Vê-se que o jogo foi muito bem pensado neste aspecto.

Como referi, pelo caminho, existem vários obstáculos a ultrapassar. Desde desafios lógicos, passando por zonas infestadas por Zurks, uns seres estranhos que quando se pegam ao gato, parecem carraças super-aditivadas e que se não os conseguirmos eliminar, acabam por aniquilar o felino.

Os desafios lógicos são, na sua maioria, simples e acessíveis apesar de alguns serem um pouco rebuscados na obtenção das soluções. Seja como for, todos eles requerem atenção ao pormenor e capacidade de observação dos cenários para os ultrapassar, o que faz com que o avanço no jogo seja relativamente tranquilo.

E essa atenção ao pormenor só será possível pois os BlueTwelve Studios desenvolveram um mundo rico e bastante detalhado. Tirando a ausência de alguma ação e movimento, todos os locais por onde passamos se encontram bastante bem detalhados e, com rigor. E isso é importante, uma vez que alguns dos obstáculos que se nos colocam exigem uma grande atenção ao detalhe no que nos rodeia.

É, dessa forma, um jogo que tanto pode ser jogado por adultos, como por mais jovens não deixando por isso de perder interesse e graça. Aliás, dadas as mensagens que são transmitidas no decorrer do jogo, acaba por ser algo didático para os mais jovens (sendo de lamentar o facto de ser apenas e inglês).

À medida que avançamos no jogo, os desafios que nos vão surgindo são diversificados o suficiente para que não possamos dizer que o jogo se torna demasiado repetitivo ou monótono. É curioso como a equipa de desenvolvimento pensou em pormenores muito interessantes para manter as coisas apelativas e, para os jogadores mais astutos e mais ambiciosos, existem muitos locais escondidos que só com grande atenção (ou sorte) podem ser encontrados e nos quais se escondem algumas relíquias do passado desta cidade e destes pobres robots.


No decorrer do desenvolvimento de Stray, os seus criadores da BlueTwelve Studios, referiram por várias vezes que o nosso personagem principal, iria apresentar um comportamento e movimentos extremamente realistas e que tiveram como base a observação e análise intensiva de felinos reais.

Devo confessar que, com efeito, os movimentos do nosso felino, tirando alguns excepções, acabam por se revelar extraordinariamente fieis. Os saltos, as corridas, o simples roçar nas pernas… foi feito, sem dúvida, um tremendo trabalho na virtualização e captura de movimentos dos gatos.

Mas mais. Pormenores como arranhar as unhas nas árvores ou alcatifas ou beber água em poças estão presentes e acabam por se revelar bastante relaxantes também para o jogador, por incrível que pareça. (e em alguns casos, desbloqueadores de obstáculos)

Com efeito, mesmo sem apresentar muitos ganhos em termos de jogo ou de história, á algo que é fácil darmos por nós a procurar de uma forma algo inconsciente. Entramos numa sala e quando damos por nós estamos a arranhar as nossas garras na alcatifa ou numa parede. Usando o R2 e L2 para cada pata, sentimos a vibração respetiva no nosso DualSense, e acaba por ser algo relaxante. (não existe barra de energia, de fome ou de conforto)

Outro pormenor que não traz mais-valia ao jogo mas que se torna inevitável, consiste em procurar locais acolhedores para dormitar (camas, sacos ou outros locais apetecíveis). É quase como se vestíssemos a pele do gato e começássemos a pensar como um felino.

Quanto aos robots, encontramos um misto de, excelente trabalho de caracterização individual (cada um tem a sua própria personalidade), com certa sensação a monotonia. A maior parte dos robots é acessível mas alguns tornam-se um pouco repetitivos quando interagimos com eles repetidas vezes. É claro que os principais intervenientes apresentam-se mais ricos. Algo engraçado é o facto de apresentarem as suas “emoções” nas suas caras de Emoji.

E essas “emoções” reproduzem-se múltiplas vezes, uma vez que Stray é um jogo que aborda também a amizade. Amizade entre os robots e um gato, neste caso. Para avançarmos na história é necessário, muitas vezes, ajudar os desafortunados robots que por sua vez, nos auxiliam. É um “dá cá, toma lá” que funciona bem na dinâmica do jogo.


Stray é um jogo que, com a sua perspectiva diferente daquela a que estamos habituados, se torna interessante e divertido de jogar. Com uma forma inteligente de aliar essa perspectiva distinta a uma jogabilidade simples e prática os jogadores acabam por embarcar numa aventura divertida e interessante, sob o olhar de um simples gatinho.

O jogo passa ainda um conjunto de mensagens bem atuais, através dos diálogos e documentos encontrados, que demonstram também uma maior preocupação com a atualidade e a nossa presença neste mundo.

Stray

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