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Análise Stellar Blade (Playstation 5)

Foi um dos jogos em maior destaque no reino da Playstation, no decorrer da primeira metade de 2024. Stellar Blade é um titulo de ação desenvolvido pela equipa coreana Shift Up (a sua estreia nos grandes títulos), e que foi bastante bem acolhido pela generalidade da critica e… por nós!


Quando começámos a explorar o mundo apocalíptico e desolado de Stellar Blade, fizemo-lo com expetativas um pouco altas, geradas no decorrer dos meses imediatamente anteriores ao seu lançamento, através das sucessivas noticias e rumores libertados pela equipa coreana Shift Up.

Mas mais que isso, podemos constatar que Stellar Blade, o primeiro grande titulo do estúdio, assumiu ainda um papel importante no próprio ecossistema Playstation, sendo um dos grandes jogos da primeira metade do ano para a Playstation 5.

Trata-se de um jogo futurista, de ficção mas onde valores e mensagens bem atuais se encaixam de uma forma bastante suave e transparente.

A história do jogo conta como, o Planeta foi invadido por uma raça alienígena (os Naytiba) que obrigou os humanos a procurarem refugio nas estrelas. Mas, sempre com a Terra debaixo de olho e com a esperança de a poder reivindicar novamente.

E é nesse momento que a ação de Stellar Blade começa, juntamente com Eve (a nossa personagem e membro da 7th Airborne Squad) enveredamos numa aventura na terceira pessoa, na tentativa de resgatar a Terra para nós, os Humanos.

Mas não estamos sozinhos e durante grande parte da aventura, contamos com o apoio de Adam (um misterioso e envolvente sobrevivente) que, sob a forma de um drone que controla remotamente, nos vai acompanhando e ajudando na aventura, assim como de Lily, outra sobrevivente duma trágica descida da 5th Airborne Squad. Lily vem-se a revelar muito útil, graças às suas capacidades técnicas que fazem dela uma tremenda especialista em eletrônica e afins, providenciando upgrades aos equipamentos e muitas vezes soluções para missões secundárias.

E sim! Stellar Blade acaba por se tratar de uma aventura na qual iremos explorar um mundo destruído e praticamente despojado de vida humana. Aos poucos e poucos, graças às nossas interações com Adam e a inúmeros documentos que vamos encontrando, o jogador vai-se apercebendo do que se passa e passou (e com algumas surpresas) e, tendo como base de operações a cidade de Xion (ultimo bastião moribundo da raça humana) vamo-nos apercebendo da dura e crua realidade.

A narrativa não é assim tão especial quanto isso mas, acompanha a ação do jogo de forma consistente e acaba por se tornar interessante o suficiente para nos cativar durante grande parte do jogo. Até mesmo pois Stellar Blade toca alguns assuntos bem mais profundos que, de forma mais ou menos dissimulada transmitem mensagens mais sérias e quase meditativas.

Eve é uma heroína um pouco diferente das demais. Começando com uma atitude um pouco ingénua, vai crescendo e amadurecendo à medida que se vai aprofundando na narrativa. Apesar de se tornar interessante assistir a essa maturação, fica uma ligeira sensação de demasiada artificialidade em relação à feminilidade de Eve e à exigência da demanda que tem em mãos.

Contudo, o prato principal do jogo é, o combate. É, sem dúvida, a cereja em cima do bolo.

Eve possui os ataques normais que seriam de esperar e, adicionalmente, possui ainda a capacidade de deferir ataques especiais, com recurso a Energias Beta e Burst, um tipo de energia especial que pode ser adquirida através de ataques e bloqueios bem sucedidos, ou desvios de ataques inimigos. Para carregar as nossas barras de Beta, é necessário um timing correto do pressionar dos botões e Stellar Blade é um jogo exigente. Logo, ocorrerão muitas ocasiões em que não teremos ataques especiais à nossa disposição.

Uma tática crucial neste tipo de jogos é, conforme vimos, a capacidade de nos desviarmos de ataques inimigos, numa manobra defensiva. Em Stellar Blade, tal não é exceção, mas ganha outra força, podendo complementar-se uma manobra defensiva com contra-ataques repentinos (muitas vezes por trás do inimigo). Ou seja, passa de manobra meramente defensiva, para defesa e contra-ataque.

Esse timing de atacar ou de nos desviar é importantíssimo portanto e, sendo que Stellar Blade raramente perdoa, muitas vezes esses segundos podem significar a morte de Eve. Contudo, e graças aos diversos upgrades que vamos podendo fazer às habilidades de Eve, vai-se ganhando mais tempo disponível para bloquear ataques inimigos. Assim como as sucessivas melhorias nos stats de Eve graças ao uso (e melhoria) dos seus fatos.

Como já alguém disse no passado, o ataque é a melhor defesa, e neste jogo também o continua a ser. Especialmente se tivermos a iniciativa e conseguirmos criar emboscadas (quase todos os inimigos têm ângulos mortos). No entanto, nem sempre isso é possível e Stellar Blade lembra-nos que, mais que lutar, é importante aprender os padrões dos inimigos e tentar antecipar os seus movimentos da melhor forma.

Algo que sinceramente poderia ser melhorado, até mesmo para criar ainda um pouco mais de efeito surpresa, é o posicionamento dos inimigos no momento do respawn. Seria muito mais desafiante se o jogo posicionasse os Naytiba aleatoriamente nos cenários quando nascemos (ou descansamos num acampamento) em vez da previsibilidade de surgirem sempre no mesmo local.

Seja contra os bosses, ou contra inimigos mais fracos, o combate é fluído e a jogabilidade não apresenta muita granularidade. Os controlos são responsivos e a visualização no écran dos nossos comandos, verifica-se muito satisfatoriamente. Um sistema de combate bastante eficaz que não desilude em nada as expetativas geradas no decorrer dos meses anteriores ao lançamento do jogo.

Uma palavra de destaque para a diversidade de inimigos que Stellar Blade apresenta, cada qual com os seus estilos de ataque, pontos fortes, fraquezas, modos de ataque/defesa e desafios específicos que apresentam ao jogador. Cada qual é bastante bem descrito numa enciclopédia ingame que vai sendo preenchida à medida que vamos tendo contacto com cada novo tipo de Natyba. De lamentar apenas o facto de não existirem mais bosses para combater.

E os bosses! Bem, os bosses tratam-se de aberrações francamente grotescas e brutais. São imponentes e merecem uma atenção redobrada na altura de os combater. Apresentam ataques especiais normalmente catastróficos caso atinjam Eve mas apresentam também rotinas que terão de ser estudadas (muitas vezes com recurso a try-error, ou seja, tentar-morrer).

São todos diferentes e apresentando quer ataques normais como especiais próprios, como também têm comportamentos diferenciados transformando-os em desafios exigentes de ultrapassar. Quem aprecie bons desafios, tem aqui um jogo que o vai colocar à prova e sem necessidade de button smashing, na maior parte das ocasiões.

E isto leva-nos a outro ponto menos positivo do jogo. Em particular para quem goste de armamentos (especialmente sendo um titulo futurista) e experimentações, sente-se a ausência de armas. Além do drone (controlado por Adam) que nos acompanha, da espada de Eve, pouco mais há. É claro que o drone pode ser munido de vários tipos de munições e Eve pode usar também granadas mas… sente-se a falta de algo mais.

Por outro lado, Eve vai adquirindo vários equipamentos distintos ao longo da história. Além de esteticamente serem um assombro, não são apenas para se ver e admirar. Cada um apresenta um conjunto de boosts (passivos) de vários níveis que conseguem, de certa forma, minimizar essa desilusão da ausência de armas. Cada equipamento (podem ser melhorados) apresenta vantagens em determinada categoria (camuflagem, poder de ataque Beta, redução de dano, resistência a ataques…) sendo que isso permite ainda uma certa liberdade estratégica ao jogador.

O jogo apresenta ainda uma certa liberdade de exploração e, apesar de haver um claro caminho a percorrer, os mapas abrem-se à nossa frente permitindo-nos escolher as melhores abordagens ou formas de avançar. Ou simplesmente explorar os cenários. E convém fazê-lo, pois existem vários pontos de interesse e recompensas, à espera de serem encontrados pelos jogadores.

E poderemos descobrir muito, desde colecionáveis, boosts de saúde e de energia Beta, novas vestimentas para Eve ou códigos de cofres poderão se encontrados em vários pontos (mais ou menos difíceis de encontrar).

De uma forma bastante interessante e refrescante, a equipa da Shift Up desenvolveu alguns puzzles e quebra-cabeças divertidos para ultrapassar. Nada de completamente inovador e na maior parte das situações até se podem tornar demasiado acessíveis, mas acabam por transmitir ao jogo algo de bom para desviar a atenção do combate.

Algo que não funcionou muito bem nestes desafios é a interação com objetos móveis que se torna um pouco complicada e caótica.

A meio dos mapas, poderemos encontrar vários acampamentos (já referi acima) onde, além de permitir a Eve restaurar a sua energia, disponibiliza ainda a oportunidade de proceder a upgrades (consumindo materiais adquiridos pelo caminho) e reequipá-la com novos trajes e power-ups. Esses acampamentos encontram-se espalhados nos mapas de forma mais ou menos satisfatória mas apresentam um pormenor que poderia ser melhorado e que já referi: os inimigos dessa secção renascem todos nos mesmos locais.

Contando com múltiplos finais, consoante algumas decisões adotadas no decorrer da aventura, o jogo convida o jogador a voltar a percorrê-lo, aumentando ainda a sua esperança de vida. Para além do desbloqueio de um New game Plus (permitindo começar de novo mas mantendo as skills e upgrades do drone entre outras coisas)…

Uma palavra para a sumptuosidade da personagem principal, Eve que revela umas linhas bastante elegantes. Aliás, o próprio jogo não se envergonha de realçar isso mesmo. Seja através das inúmeras roupas que veste, ou através de algumas posições (em cutscenes e não só) que assume, Eve é uma personagem bastante sensual e picante. Inclusive, toda esta temática levantou alguma polémica nos dias que antecederam o lançamento do jogo.

Aliás, essa é talvez uma das maiores contradições do jogo, a personagem e toda a sua elegância e o facto de se tratar de uma máquina pronta para matar. Apesar de compreendermos as influências anime e de outros jogos do género, parece que há algo aqui que não bate completamente certo. É o mesmo que vermos a Taylor Swift ou a Dual Lipa como mercenária ou a fazer uma comissão na guerra da Ucrânia.

Feitas bem as contas, Stellar Blade é um bom jogo de ação. Apresentando uma narrativa que, não sendo excecional, acaba por manter a ação coesa e chegando mesmo a tocar em várias mensagens mais reais, o jogo tem a sua grande mais-valia num sistema de combate fluído e intenso que a formosa Eve aplica contra os Naytiba.

Teremos de esperar pelo futuro para ver o que o futuro reserva a Eve mas… enquanto não vem, Stellar Blade vai fazer merecer a pena a espera.

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