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Análise Prey (Playstation 4)

Acordo de manhã e recebo uma chamada no meu intercomunicador. Estão à minha espera para fazer… testes. Levanto-me, visto o meu fato, um fato espacial. Por que motivo necessito de um fato espacial? Enfim, é o que há.

Chegado ao telhado do edifício, subo a bordo do helicóptero que lá se encontra e sou transportado para os laboratórios da TRANSTAR. Começam os “testes”, mas algo parece errado. De repente, algo imprevisto acontece. Só me lembro de abrir novamente os olhos no meu quarto. Desta vez não recebo nenhuma chamada. Assim que saio pela porta, percebo que algo de grave se passou. Afinal, nada é o que parece…


Em Prey, desempenhamos o papel de Morgan Yu – personagem cujo género será o jogador a escolher -, residente na estação espacial Talos I. Morgan acorda numa manhã e dirige-se aos laboratórios da TRANSTAR para se submeter a alguns testes feitos pelo Dr. Bellami. Durante estes testes, o Dr. Bellami é atacado e morto por um Typhon, uma espécie extraterrestre que escapou dos laboratórios da estação. Aqui começa a acção de Prey, com Morgan a ter de descobrir quem – ou o quê – esteve por detrás deste incidente, eliminar os Typhon que se encontram à solta pela estação e assim salvar o planeta Terra de uma possível invasão.

À primeira vista pode pensar-se que Prey é apenas um FPS, mas é muito mais do que isso. Prey assenta sobretudo na exploração e na descoberta. E se existem jogos em que isso pode ser frustrante para os jogadores, explorar Talos I e descobrir os seus segredos é um autêntico prazer. Talos I está extremamente bem desenhada, com todos os detalhes pensados ao mais ínfimo pormenor. Apesar de o ataque dos Typhon ter despojado Talos I dos seus habitantes – podemos encontrar alguns cadáveres espalhados à medida que vamos explorando –, a forma como a estação foi concebida confere-lhe, ainda assim, um enorme dinamismo. Se quisermos levar a exploração bem a fundo, temos, por exemplo, a possibilidade de aceder aos postos de trabalho de alguns dos que lá trabalhavam e consultar os seus emails mais pessoais, tendo um vislumbre de como era a vida antes dos Typhon.

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Mas a beleza de Talos I não se resume a isto. Para além do brilhantismo do design da estação, existem certos pormenores que, em muitas outras situações, poderiam muito simplesmente ter sido esquecidos. O mais flagrante é o facto de podermos recolher lixo e outros objectos inutilizados, reciclá-los e produzir objectos que serão úteis à nossa missão. E, se pensarmos bem, esta funcionalidade faz todo o sentido: estando num estação espacial com acesso a poucos recursos, a capacidade de reciclagem e de produção de novos recursos úteis é imperativa.

Uma outra característica importante de Prey – e que acaba por não lhe conferir a 100% as características de um FPS puro – é a escassez de armas e munições. Vamos podendo recolher algumas armas e tendo acesso a munições à medida que vamos progredindo, mas o número é tão limitado que as situações de confronto directo devem ser evitadas. Gastar munições contra o inimigo poderá revelar-se um erro em fases posteriores do jogo.

Uma das melhores armas que podemos utilizar é a GLOOO GUN, arma que dispara uma substância pastosa que solidifica instantaneamente e que tem várias utilizações. Pode ser usada para imobilizar temporariamente os nossos inimigos (permitindo-nos atacar sem sofrer muitos danos num primeiro momento) ou também ser utilizada na criação de estruturas para chegar a locais que, de outra forma, seriam inacessíveis.

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No que diz respeito aos inimigos que teremos de enfrentar – os Typhon -, é difícil caracterizá-los pois podem assumir várias formas. Os mais básicos – os Mimics – são shape-shifters, tendo a capacidade de se disfarçar de objectos comuns como canecas, cadeiras ou até armas. Teremos, portanto, de ter bastante cuidado com os objectos em que agarramos: poderão revelar-se um extraterrestre com quatro patas que nos ataca quando menos esperamos.

Mas se nos primeiros encontros estes Mimics se revelam um obstáculo desafiante, à medida que os encontros se vão tornando mais frequentes acabam por tornar-se apenas irritantes. São difíceis de eliminar e é necessário ter a pontaria afinada para os podermos atingir, seja qual for a arma que estamos a utilizar. Mais irritantes ainda se tornam quando regressamos a locais que já tinham sido limpos de inimigos e verificamos que, afinal, voltaram a existir Mimics que temos de eliminar.

Algumas destas situações podem ser sentidas como uma perda de tempo e um entrave desnecessário à progressão no jogo.

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Para além das armas de que dispomos, podemos utilizar os Neuromods, uma espécie de implantes que vamos recolhendo pela estação (ou que podemos construir, desde que tenhamos as skills e materiais necessários para tal) para aumentarem as nossas capacidades. Existem dois tipos de capacidades que podemos desenvolver: as capacidades humanas – velocidade, velocidade de regeneração e cura e a capacidade de hackear dispositivos eletrónicos, são alguns exemplos – e as capacidades alienígenas, sendo mesmo possível obter as mesmas características que permitem aos Mimics assumirem a forma de vários objectos. Claro que, neste último caso, teremos de lidar com a desvantagem de sermos confundidos com seres alienígenas pelas defesas automáticas da estação. Assim sendo, temos de ponderar bem as características que decidimos adquirir: demasiadas características humanas poderão não ajudar a atingir os objectivos e demasiadas características alienígenas poderão levar a que a própria segurança automática de Talos I nos queira eliminar.

Mas embora Prey seja, sem qualquer sombra de dúvida, um óptimo jogo, tem alguns pontos negativos que acabam por prejudicar a tensão que se vai construindo à medida que avançamos. Talos I está dividida por áreas: laboratórios, átrio, aposentos e outros. Sempre que transitamos de uma área para outra, somos direccionados para um ecrã de carregamento com uma barra de progresso que, sem exagero, demora cerca de um minuto a chegar ao fim. Em momentos de tensão ou em situações em que tenhamos de nos movimentar entre as diversas áreas para completar algum passo da nossa missão, é difícil não sentirmos alguma frustração ao observar a barra de progresso a avançar tão lentamente.

Aliás, esta necessidade de constante circulação entre as várias áreas da estação deixa-nos por vezes a sensação de que não estamos a progredir assim tanto. Ter de voltar atrás para ir buscar um keycard que abra uma porta numa outra área qualquer acaba por não fazer sentido numa estação tão grande.

Ainda assim, Prey é um jogo fabuloso, tanto para os amantes de FPS como para os amantes de jogos onde as capacidades stealth são determinantes. Uma estação espacial que realmente se parece com uma estação espacial e um enredo que vai sendo desvendado à medida que progredimos no jogo e vamos investigando Talos I… Tudo isto nos faz querer continuar a jogar e perceber, afinal, o que se passou para que um local outrora povoado por pessoas normais e com vidas normais fosse subitamente dominado por estranhos e perigosos seres alienígenas.

Veredicto:

Assente num enredo que nos agarra desde o início, Prey leva-nos para um ambiente hostil, numa estação espacial povoada por terríveis alienígenas que conseguem assumir a forma dos mais variados e insuspeitos objectos. O sentido estético da Arkane Studios é visível por toda a Talos I e a atenção ao detalhe e aos pormenores mais subtis fazem toda a diferença.

Apesar de alguns aspectos que podem frustrar os jogadores – nomeadamente os tempos de carregamento do jogo entre as diferentes áreas da estação espacial -, Prey é um jogo completíssimo, desafiante e emocionante. Aconselhável a quem gosta de bons momentos a jogar bons jogos.

Prey

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