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Análise Heaven’s Vault (Nintendo Switch)

Chegou recentemente à Nintendo Switch, Heaven’s Vault (lançado em 2019 para PC), um título bastante diferente do que se tem visto nos últimos tempos.

Tal como podem ver nas palavras que se seguem, Heaven’s Vault convida o jogador a descobrir uma Civilização Antiga e a decifrar a sua linguagem perdida.

Uma experiência diferente e o Pplware já experimentou!


Heaven’s Vault é um jogo desenvolvido pelos estúdios britânicos, Inkle, fundados em 2011. É um jogo bastante diferente daquilo a que estamos habituados e, muito sinceramente, acabou por se tornar numa surpresa bastante agradável.

Não quero com isto dizer que se trate de um jogo perfeito ou que seja adequado a todos os tipos de jogadores. Nada disso! Mas tornou-se numa ótima surpresa, pois acabou por exceder as expetativas, nomeadamente, naquilo que respeita à história e mecânica principal do jogo: decifrar uma linguagem esquecida.


Mas começando pelo início, Heaven’s Vault coloca o jogador na pele de Aliya Elasra, uma estudiosa de Linguística e de História que vive em Iox. Iox é como se fosse o “planeta” central da constelação onde a ação decorre.

Iox é também o ponto mais evoluído desta “galáxia” e onde se encontram os habitantes mais eruditos e mais evoluídos. É também aqui que existe a Universidade de Iox, onde Aliya trabalha.

O pontapé de partida para a história de Heaven’s Vault começa na Universidade de Iox, onde a professora Myari lhe pede ajuda para encontrar um membro da universidade que se encontra desaparecido. Trata-se do professor Janniqi Renba, especialista em robótica.

A professora Miyari é como uma mentora para Aliya, pois resgatou Aliya ainda nova de uma vida de pobreza na Lua de Elboreth, onde viva e a trouxe para Iox. Elboreth que é um local conhecido pela extrema pobreza e por ser um centro de venda de escravos.

Aliya tem poucas pistas sobre o paradeiro do professor Renba e assim, parte com Six (nome dado a um robot que a acompanha).

Six é um personagem que gera alguma polémica. Se por um lado, dá-nos importantes dicas sobre os artefactos que encontramos ou sobre eventos que presenciamos, por outro lado, é incapaz de nos ajudar em alguns processos complexos, nomeadamente no escrutínio da nova linguagem.


Uma nova língua

E este é precisamente o ponto forte do jogo e onde a verdadeira magia dos estúdios Inkle se sente. À medida que investigamos o paradeiro do professor Renba, encontramos inúmeros objetos que nos fazem levar uma viagem no tempo. Uma viagem que, à medida que se vai desenrolando nos dá a perceber que ele tentava evitar um cataclismo.

E esses indícios surgem sob a forma de uma linguagem desconhecida. Uma escrita antiga, que revela um poderoso mistério sobre um evento catastrófico que pode estar por acontecer.

De forma a encontrar o professor e evitar essa catástrofe, Aliya tem de descodificar essa nova linguagem e este é o prato forte do jogo.

O processo de descoberta de uma linguagem antiga é, com toda a certeza, uma verdadeira dor de cabeça para quem a tenta decifrar e a Inkle tentou reproduzir esses dilemas e questões numa forma muito interessante e prática.

A linguagem em questão é composta por símbolos hieroglíficos e, apesar do jogo nos apresentar várias opções para cada palavra, acabam por criar mais confusão que certezas. Para isso também ajuda o facto do jogo não nos revelar nesse momento, se estamos certos ou errados.

Trata-se de uma sucessão de tentativas e erros, que vai aumentando à medida que o número de palavras vai crescendo com novas descobertas. Como podem ver, isto tem potencial para criar muita confusão a quem jogo. Pelo menos até certa altura no jogo.

Apesar de acreditar que este processo, algo frustrante a início, possa afugentar alguns jogadores menos pacientes, para os restantes que gostem deste tipo de emoções, acredito que valha a pena.

Para a descoberta dos significados das palavras, a Inkle criou ainda outro sistema que se encontra perfeitamente adequado para o jogo: mapa temporal. Trata-se de representações cronológicas dos eventos (sejam da atualidade de Aliya ou mais antigos, da altura da civilização desaparecida).

Este acessório extremamente útil, encontra-se disponível a qualquer momento, permitindo a Aliya ir atualizando ou revendo as suas descobertas e chegando a novas conclusões. Isto, tanto da língua que tenta desvendar como do mistério do desaparecimento do professor Renba.

Seja como for, Aliya não está totalmente sozinha nesta demanda e conta com a ajuda de dois amigos (cada um com intenções distintas) para descobrir novas palavras e novos significados para os símbolos. E assim, gradualmente vamos conseguindo a reconstrução dessa nova língua.


A Nebula

Tal como disse anteriormente, Iox é o ponto central do enredo, mas existem muitas outras luas e locais que se estendem por este estranho universo. A ligação feita entre cada local acontece através da Nebula. A Nebula é algo parecido com uma Via-Láctea celestial, composta por rios de energia, que fluem ininterruptamente e através dos quais navegamos com o Nightindale (uma espécie de embarcação).

É através da Nebula que viajamos entre Ios e as várias Luas. Basicamente usamos os gatilhos ZL e ZR para virar à esquerda e direita e podemos ainda usar o botão A para dar um boost de velocidade. Tenho de confessar que após as primeiras viagens pela Nebula, cedo cansei-me desta parte, por ser repetitiva, monótona e lenta.


Para avançar no jogo, existe ainda uma forte componente de diálogos com os NPCs que habitam Iox e as Luas. Tenho de confessar que são diálogos um pouco sem emotividade, mas que são importantes pois revelam bastante sobre os personangens e, acima de tudo, sobre a história que estamos a desvendar.

Interessante a forma como a Inkle desenhou os diálogos, com algumas mudanças de perspetiva no decorrer da conversa que fogem à tradicional imagem estática.

Um pormenor importante do jogo é que Heaven’s Vault desde cedo mostra-nos que a maior parte das nossas decisões tomadas nos diálogos têm um impacto real na forma como o jogo reage à presença de Aliya.


Observação, interpretação e “partir pedra”

Algo que se sente imediatamente ao jogar Heaven’s Vault, é que se trata duma experiência calma e tranquila. Para muitos, demasiadamente tranquila.

A tarefa de desvendar um mistério milenar e de decifrar uma língua estranha é algo que se pode aceitar que não tenha muita ação. O ritmo é lento a todos os aspetos e acaba por se sentir alguma monotonia, nos momentos entre o desvendar de algo de interessante. Sente-se um pouco a falta de umas pitadas de movimento, ação, adrenalina…

O desenrolar da história avança através dos diálogos e das descobertas feitas. Creio que, de uma forma simplista, se pode dizer que tudo se resume a, Aliya recolher informações e descobrir objetos, para tentar criar uma linha cronológica dos acontecimentos ocorridos com base nesses achados.

Dessa forma, vai criando a história temporal que as pistas lhe vão desvendando.

Os movimentos de Aliya são também reduzidos, não podendo correr, por exemplo. Também a exploração dos locais por onde passamos se encontra bastante limitada não se podendo investigar com total liberdade. Tudo isto ajuda a que o jogo aprisione um pouco o jogador.


Por fim, uma palavra para a banda sonora que acompanha o jogo, calma e tranquila como o próprio jogo e que ajuda a criar um ambiente de introspeção e meditativo, necessários para desvendar os mistérios da antiguidade.

Veredicto:

Uma brisa refrescante, é o que Heaven’s Vault representa. A envolvência gerada pela tentativa de compreensão da história de uma civilização antiga, e o decifrar da sua linguagem perdida, é uma sensação refrescante e bastante bem-vinda.

É, no entanto, um jogo de nicho, claramente. É um jogo excelente para os apaixonados pela temática de descoberta da História e pelo decifrar de uma língua nova.

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