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Análise Hades (Xbox One)

Desenvolvido pelos californianos, Supergiant Games, Hades é um roque-like cuja ação decorre no Reino de Hades, ou seja, no Reino dos Mortos, segundo a mitologia grega).

Trata-se de um título que esteve bastante tempo em Acesso Antecipado e que, apresentando algumas ideias novas combinadas com algumas não tão novas, criou fortes expetativas.

Já tentámos a nossa grande fuga do Reino dos Mortos e experimentámos Hades.


Após um período em Acesso Antecipado, Hades encontra-se agora na sua derradeira versão e em boa altura chegou. Na sua essência, Hades é um rogue-like com uma narrativa interessante e densa e que apresenta algumas semelhanças com Returnal, que vimos aqui. Mas já lá iremos.

Hades apresenta uma história baseada na mitologia grega e na qual, encarnamos a pele de Zagreus. Trata-se do filho de Hades (Deus dos Mortos e do Submundo) e que finalmente se fartou de viver no Submundo. Dessa forma, Zagreus decide sair da casa do Pai.

É claro que Hades não concorda com esta decisão do filho Zagreu e lança contra Zagreus todo o tipo de demónios e outras ameaças para o impedir. E é assim que começa a nossa aventura.

A narrativa de Hades não se fica, no entanto, por aqui e ao longo do jogo vamos descobrindo muito mais sobre a história de Zagreus, do seu pai, da sua madrasta, mãe e muitos outros… num enredo extremamente envolvente (para apreciadores) e que nos é revelado ao longo de todo o jogo.


Como sabem, a mitologia grega é extremamente rica e Hades faz bom uso de toda essa riqueza. Os diferentes intervenientes que vamos encontrando no jogo são todos conhecidos e vão ser importantes no decorrer da história.

Até encontramos o Cerberus (cão de múltiplas cabeças que guarda a entrada e, principalmente, a saída do Tártaro), entre muitas outras entidades.

E algumas delas são mais ou menos importantes para narrativa e desenrolar do jogo como, por exemplo, Nyx a mãe adotiva de Zagreus ou Aquiles. Até mesmo porque muitas delas fornecem a Zagreus, power-ups que lhe conferem poderes ou habilidades especiais no decorrer de cada tentativa de fuga.

Jogabilidade exigente e viciante

Tal como indiquei atrás, Hades apresenta algumas semelhanças a Returnal. Com efeito, a principal consiste no facto da ação do jogo ocorrer numa sucessão de antecâmaras que vão sendo geradas processualmente (dinamicamente) à medida que saímos da anterior.

As antecâmaras são criadas dinamicamente o que faz com que a disposição e ordem das masmorras que nos surgem a cada nova tentativa de fuga, dificilmente se repetirão. À semelhança do que sucede em Returnal, também o seu conteúdo (inimigos e conteúdo) são alterados dinamicamente.

Mais atrás referi que a história de Hades se vai revelando ao longo do jogo e para isso, muito contribuem as centenas de diálogos que vamos mantendo com os diversos intervenientes no jogo.

Quando morremos no decorrer de uma tentativa de fuga, Zagreu é direcionado através do Rio Styx para o palácio de Hades, local onde encontramos e dialogamos com outras personagens mitológicas que frequentam o local. Mais importante, é no palácio de Hades, que podemos adquirir novos poderes e habilidades para Zagreus, com base no loot que trazemos connosco.

No decorrer desses vários diálogos (curtos) que vamos evoluindo na história e percebendo melhor o porquê da fuga de Zagreus.

No início de cada tentativa de fuga, somos presenteados com uma Bênção oferecida por um determinado Deus (aleatoriamente).

Cada Deus tem a sua especialização e como tal as suas Bênções têm efeitos correspondentes. Por exemplo, Artemis dá-nos boosts para ataques críticos, enquanto Athena nos permite refletir ataques inimigos. As Bênções apresentam ainda um nível de raridade que, quanto maior, maior o boost que nos disponibiliza.

No entanto, ao longo do jogo vamos encontrando muitos outros items (e mesmo outras Bênções), cada qual com a sua utilidade que, todos combinados, transformam o nosso Zagreus numa verdadeira arma de matar. Contudo, os inimigos também vão aumentando o grau de exigência, a culminar nos bosses de cada local.

Seja como for, apesar da aleatoriedade da Bênção de início Hades permite ao jogador ir “endireitando” as coisas uma vez que as saídas de uma antecâmara com várias possuírem um indicador visual do tipo de recompensa nos espera do outro lado. Isso permite aos jogadores avaliarem quais as suas necessidades mais urgentes e seguir o caminho mais adequado. E nunca se fica com a sensação de lutar por nada. Há sempre uma recompensa.

Por exemplo, as Cthonic Keys, são chaves que nos permitem desbloquear as várias armas à nossa disposição.

Por seu lado, ao acumularmos Darkness (Escuridão) é-nos permitido aumentar os poderes de Zagreus com power-ups permanentes, através do Mirror of Night (Espelho da Noite que existe no nosso quarto). Uma dessas habilidades especiais, e bastante útil, é a capacidade de ludibriar a Morte uma vez por tentativa de fuga.

Outro exemplo, é o Néctar dos Deuses que nos é permitido oferecer aos vários intervenientes no jogo, o que melhora a nossa relação com cada um e faz com que eles sejam mais generosos na altura de nos oferecerem dádivas futuras.

E por falar em armas. No nosso quarto no Palácio de Hades existem 6 armas que teremos ao nosso dispor. Inicialmente apenas uma está disponível, tendo de desbloquear as restantes (com as Cthonic Keys). Cada uma é distinta e apresenta o seu ataque especial próprio.

Podemos usar o Coronacht (arco e flechas) ou a Stygius (espada), Aegis (escudo) entre outras e cada qual tem os seus ataques especiais e melhorias próprias.

No início, cada arma pode parecer demasiado simples no seu uso, mas, com o avançar do jogo, vamos aprendendo a usá-las e aos seus ataques especiais que, juntamente com o resto das nossas habilidades, cria um sistema de combate emotivo, frenético e altamente viciante.

É também na sala de armas de Zagreus que podemos treinar o uso das armas com a ajuda de um simpático esqueleto (Zé Caveira) com um fantástico sentido de humor.

Tenho de confessar que, com tanta coisa possível de fazer (dialogar, adquirir novos power-ups, personalizar o Palácio de Hades,…), cada vez que se morre e voltamos ao Palácio de Hades acaba por ser divertido e faz esquecer a frustração normal de mais uma morte. Não é apenas um ponto de partida para uma nova tentativa de fuga, mas, sim, uma parte fundamental no decorrer do jogo.


Combater as forças de Hades

Independentemente da narrativa acabar por ser surpreendentemente, um dos pontos fortes do jogo, é no combate que reside a essência de Hades.

E… funciona muito bem. Com uma jogabilidade tipicamente hack’n slash que apresenta uma perspetiva tradicional isométrica, Hades não apresenta nenhuma revolução, mas está competente.

Encontra-se extraordinariamente responsivo, mesmo quando estamos rodeados de inimigos, o que é crucial para um jogo que tem o ritmo que Hades apresenta. A ação é extremamente rápida e a responsividade é crucial. E isto independentemente de usarmos a Coronacht, ou os Punhos Gémeos. Todo o jogo encontra-se livre de lag o que é de louvar.

Por outro lado, as próprias masmorras permitem um certo nível de interação com elas, podendo destruir pilares a nosso favor no decorrer da batalha.

Mesmo quando temos obstáculos nas masmorras, a nossa visão nunca é mortalmente prejudicada. No entanto, quando existem muitos inimigos e efeitos em simultâneo, pode-se tornar um pouco difícil orientar Zagreus pela antecâmara.


Entre as arenas por onde passamos, encontramos ainda algumas salas especiais (opcionais) onde podemos entrar e enfrentar desafios adicionais. Por exemplo, pode-nos ser proposto que, nas próximas 3 antecâmaras a nossa velocidade seja mais lenta, mas que após as passarmos, ganhemos uma probabilidade de ataque critico 5x maior.

Uma palavra para o facto de Hades não apresentar tutoriais. No entanto, sendo extremamente intuitivo, também não se nota a sua ausência. Além disso, o jogo apresenta um robusto Codex que vai sendo enriquecido com as nossas horas de jogo.

Quanto aos gráficos de Hades, compreendo que possa haver jogadores que, habituados à luxúria e exuberância dos gráficos de outros jogos, não apreciem tanto a qualidade que Hades apresenta. Para quem olhe um pouco mais além deste aspeto, a qualidade do trabalho gráfico da Supergiant Games encontra-se definitivamente, muito bom.

Por fim, uma última palavra para o que se ouve em Hades. O som ambiente e efeitos sonoros estão francamente bons e, enquanto no Palácio de Hades, se sente uma certa austeridade e suspense, nas masmorras são os sons de luta que se ouvem.

Quanto ao trabalho dos atores que deram voz aos personagens, estão também muito bons. Apesar de alguns aspetos a melhorar, percebe-se pelas vozes o sentimento de cada interveniente, desde a altivez de Hades, a mágoa e apoio de Nyx,… e isso tudo ajuda a criar o ambiente que Hades necessita a cada momento.

Hades

Veredicto:

Hades é o culminar da simbiose perfeita entre uma narrativa criativa e interessante baseada na mitologia grega, com uma jogabilidade empolgante e desafiadora típica dos rogue-likes. A Supergiant Games apresentou algumas ideias novas, misturadas com outras não tão inovadoras, fazendo de Hades um título bastante competente em todas as suas vertentes.

Quer se aprecie a mitologia grega, quer se aprecie apenas rogue-likes ou quer se aprecie hack’n slash, Hades não desilude e transforma-se numa experiência extraordinariamente viciante.

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