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Análise Get Even (Playstation 4)

Get Even não é um jogo fácil de descrever. E não é fácil de descrever por ser um jogo diferente da grande maioria dos que já experimentámos. É um daqueles raros casos em que o jogador se sente exactamente como o personagem principal: completamente confuso e desorientado e sem saber se o que está a viver é a realidade actual ou uma manifestação de uma das suas memórias.

Get Even é único e ímpar e que demonstra uma enorme coragem e um potencial gigantesco por parte da equipa da The Farm 51 para nos brindar com bons jogos.


A premissa de Get Even não é simples. O jogador encarna o personagem principal, Cole Black, que tenta – num primeiro momento do jogo – encontrar e salvar uma jovem que se encontra algures num asilo abandonado. Encontrando-a, Cole apercebe-se que ela tem uma bomba amarrada ao peito. Ao tentar desarmá-la, o inevitável acontece e a bomba explode.

Neste ponto poderíamos pensar que o rumo seria igual ao de tantos outros jogos: voltaríamos um pouco atrás no jogo e seguiríamos a partir daí para mais uma tentativa. Mas, pelo contrário, o jogo continua e damos por nós a acordar no exterior do referido asilo e a receber no telemóvel estranhas mensagens de um tal Red. Entramos, então, num edifício abandonado e decrépito onde esperamos encontrar algumas respostas para o que está a acontecer.

Cole tem na cabeça um estranho aparelho que transforma as suas memórias em realidade, levando-o a reviver alguns episódios da sua vida. Quando não estamos a reviver as memórias de Cole, estamos a deambular por este inquietante edifício, sempre “assombrados” pela presença de Red, um misterioso personagem que lembra um pouco o universo da saga Saw. Espalhadas pelo asilo encontram-se algumas provas que nos vão ajudar a desvendar todo o mistério que está por detrás desta história. Devido à sua complexidade, é inviável desvendar aqui todo o enredo do jogo. Porém, podemos dizer que se trata de uma história com inúmeras reviravoltas e que oferece aos jogadores uma experiência quase surreal.

 

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Get Even não é um FPS mas, apesar disso, tem situações onde será necessário utilizar a força das armas para neutralizar alguns inimigos. Não obstante, estas situações são raras e, quando ocorrem, servem um propósito específico, não fazendo parte da experiência que o jogo pretende proporcionar. As armas de que dispomos são escassas mas bastante boas e úteis: uma delas é uma metralhadora automática que consegue disparar a 90º, possibilitando que Cole fique escondido atrás de uma esquina e ainda assim consiga eliminar algum inimigo que esteja no seu caminho. Também temos em nossa posse um telemóvel que podemos acoplar à nossa arma. Este telemóvel, para além de nos mostrar o mapa das proximidades do local onde nos encontramos, tem também instalada uma app de infravermelhos que permite detectar objectos e/ou pessoas através da sua temperatura. Para além disso, possui ainda uma lanterna de luz ultravioleta que permite iluminar espaços mais escuros e detectar pistas escondidas.

Este também não é um propriamente um jogo de aventura, embora a exploração do meio envolvente, a interacção com outros “habitantes” do asilo e a busca de provas que nos ajudem a entender melhor o enredo sejam uma parte extremamente importante deste jogo. A forma como a The Farm 51 estruturou o enredo mantém-no completamente imprevisível até ao final, obrigando o jogador a passar pela experiência completa para perceber o que está por detrás dos acontecimentos iniciais do jogo. Acima de tudo, Get Even é a história, é o percorrer de um assustador asilo abandonado para encontrar as provas necessárias para que Cole desvende o porquê de estar onde está, quem raptou a jovem que ele ia salvar e, acima de tudo, quem era ela.

 

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Uma outra característica a salientar é o facto de as nossas decisões poderem influenciar o nosso percurso ao longo do jogo. Se, por exemplo, libertarmos um dos poucos prisioneiros que se encontram no asilo – não estamos sozinhos neste asilo abandonado, mas a interacção com outros “detidos” é bastante limitada – poderemos mais à frente beneficiar da sua ajuda. Infelizmente, ficámos sempre com a sensação de que este sistema não estava desenvolvido a 100%. A verdade é que não notámos que, no decorrer da nossa aventura, este aspecto tivesse uma influência determinante no nosso progresso no jogo.

O cenário onde decorre a acção de Get Even está bem construído e bem imaginado, conferindo ao jogo uma atmosfera sinistra: chega por vezes a ser opressor o suficiente para nos sentirmos na pele do personagem principal. A ajudar à festa está o som que, embora pareça desadequado em algumas situações pontuais, na maioria das vezes consegue acrescentar atmosfera ao jogo.

Apesar de tudo, e nunca é demais salientar este facto, Get Even é um jogo peculiar, intrigante e complexo que vale, acima de tudo, pela história e pela experiência. Tudo o resto, gráficos, som, jogabilidade – que até é bastante boa, diga-se em abono da verdade – são secundários num jogo onde o que conta é o que o jogador consegue retirar deste thriller psicológico que mexe connosco à medida que vamos avançando e desvendando a história.

Veredicto:

Get Even é diferente da grande maioria dos jogos que existem actualmente. O seu enredo complexo e a forma como o mesmo se encontra elaborado obrigam-nos a jogar até ao final para conseguirmos perceber a real profundidade da história e dos seus personagens. Tendo uma componente de FPS – pouca, muito pouca –, nunca sentimos que estamos num jogo onde apenas progredimos se começarmos aos tiros. Todas as situações em que ocorrem confrontos servem um propósito maior no esquema global do enredo.

A jogabilidade é bastante boa e os aspectos gráfico e sonoro são adequados, embora não sejam perfeitos. O grande foco de Get Even é a sua história, o que acaba por tornar todos os outros aspectos questões secundárias. Um jogo adequado a quem gosta de experiências complexas com enredos fortes e de jogos que o deixem intrigado do princípio até (quase) ao fim.

Get Even

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