É um costume bem português dizer-se que o que é nacional é bom, e Dakar 18, o simulador oficial da prova de rally mais exigente do mundo, é a prova disso mesmo.
Com cunho nacional, desenvolvido a norte do país pela BigMoon Entertainment, um estúdio situado em Vila Nova de Gaia, Dakar 18 tenta reproduzir a adrenalina e dificuldade de conduzir um veículo todo o terreno, pelas diferentes etapas que constituem esta prova.
Fiquem com a nossa análise de Dakar 18.
É preciso recuar até ao ano de 2003, ainda a prova se realizava em território europeu e africano, para encontrar o anterior jogo inspirado nesta prova. Por um lado, esta falta de sequenciação indica que os jogos inspirados no Dakar não foram um grande sucesso, por outro, permite que a BigMoon não tenha a pressão de seguir as pegadas de outro estúdio, podendo implementar as suas ideias de forma livre nesta primeira aventura com Dakar.
Como o nome indica, Dakar 18 é o simulador da edição da prova deste ano, cujo percurso desafiava os mais corajosos a atravessar por entre três países da América do Sul: Peru, Bolívia e Argentina. E tal como na prova real, também no modo de jogo principal o objetivo passa por concluir as catorze etapas espalhas pelos países indicados.
Antes de partir para as adversidades que caracterizam esta competição, somos convidados a escolher o tipo de veículo que queremos conduzir durante as provas. A lista inclui: camiões, motas de duas rodas e de quatro rodas, carros e SxS (uma espécie de buggies). Depois do veículo escolhido, temos de eleger a marca que queremos representar, como por exemplo: Renault, Peugeot ou Toyota, no caso dos carros, KTM ou Yamaha no caso das motas, Kamaz ou MA3 no caso dos camiões, etc.
Como, infelizmente, não existe modo de criação do nosso próprio piloto/equipa, o último passo é escolher a equipa real que vamos controlar, que no nosso caso foi, como não poderia deixar de ser, a equipa de Carlos Sousa ao volante do seu Renault Duster, acompanhado de Pascal Maimon, o navegador responsável pelo roadbook.
Dominar o roadbook é quase tão vital como saber controlar a viatura por entre os diferentes, e difíceis, tipos de terrenos que caracterizam a prova. O roadbook possui as direções ou indicações a seguir durante o percurso, até se alcançar determinado checkpoint. Por exemplo: no roadbook um desenho com três palmeiras e uma seta a apontar para a esquerda com o valor “2 Km”, indica que após as palmeiras, teremos de virar à esquerda e seguir em frente durante dois quilómetros.
Saber interpretar bem o roadbook é essencial, principalmente se jogarem na dificuldade mais exigente, uma vez que não vai existir o compasso para indicar o caminho. Mas se quiserem um verdadeiro desafio, participem na prova com motas (duas ou quatro rodas), uma vez que nestas não existe navegador a dar as preciosas indicações.
A jogabilidade das viaturas é distinta dentro das suas categorias. É notória a diferença de controlar um camião de sete toneladas por entre as dunas do Peru, e de uma mota de duas rodas. A física da condução em si não é tão boa como noutros jogos de rally, e precisa de algum refinamento, mas chega perfeitamente para cumprir o propósito que lhe compete. Os diferentes tipos de pisos da prova alteram a forma como se aborda a condução.
A areia menos densa e a lama vão afetar a velocidade, e é preciso cautela a atravessar dunas, ou conduzir por cima de uma rocha, que pensávamos poder passar por cima, caso contrário podemos incapacitar o veículo. Também pode acontecer ficar com o carro preso na lama, ou até ficar com a mota enterrada na areia. Nestes casos resta pegar na pá, sim, isto dá mesmo para fazer, e cavar para desenterrar a mota.
Para os mais exploradores, foi ainda incluído um modo de caça ao tesouro. Neste modo, e como o nome tão bem indica, somos incentivados a percorrer centenas de quilómetros em busca de um tesouro. O bom deste modo é que não há aquele sentimento de urgência, por isso pode ser encarado como uma forma de explorar os três países de forma livre.
O multijogador também marca presença. Podendo ser jogado online ou localmente em split screen.
No departamento visual, Dakar 18 é no mínimo razoável. Apesar de correr no motor Unreal Engine 4, não fiquei espantado, e a qualidade de imagem sofre um bocado mesmo a jogar numa PlayStation 4 Pro numa televisão 4K.
Num tom mais positivo, tem que ser referido que os modelos das viaturas estão muito bons, com atenção aos detalhes e todos possuem vista interior – ou na primeira pessoa se preferirem, onde também é possível verificar o cuidado que a equipa portuguesa teve em manter-se fiel às versões reais dos veículos. Por outro lado, os modelos do resto do jogo, como edifícios, vegetação, árvores, rochas, etc, não estão nada de especial.
Tecnicamente não há grandes falhas a apontar, apenas alguns glitches visuais que ocorreram com muito pouca frequência.
Veredicto
Não há margem para dúvidas de que Dakar 18 é um bom simulador da prova, genuinamente divertido, desafiante e claramente diferente de todos os jogos de rally que já joguei.
É de louvar o trabalho feito pela BigMoon, se tivermos em conta os recursos, ou falta deles, que dispunham.