Como pode um cuidador localizar uma pessoa com demência ou Alzheimer em tempo real?
As doenças neurológicas, como a demência ou o Alzheimer, podem levar à desorientação e à perda de noção do espaço, mesmo em zonas familiares. Esta realidade afeta milhares de famílias, sobretudo quando o doente ainda mantém algum grau de autonomia. Para responder a este desafio, surgiram dispositivos com tecnologia GPS e GSM que permitem localizar a pessoa em tempo real. Para ajudar na desorientação que existe no momento de procurar alguma solução, deixamos algumas dicas.
Tipos de dispositivos com localização GPS e cartão GSM
Em 2024, centenas de idosos foram reportados à PSP e GNR como desaparecidos. Para contexto, entre 2018 e abril de 2024, desapareceram em Portugal 1446 idosos com 65 anos ou mais, sendo que 115 permanecem por localizar!
Atualmente, a tecnologia pode ajudar neste problema. A questão que se coloca é que as pessoas desconhecem os sistemas hoje existentes.
Vamos falar então de equipamentos que combinam localização por satélite (GPS) com comunicação por rede móvel (GSM), permitindo saber, através de uma app ou SMS, onde está a pessoa — em tempo real e com precisão.
Relógios e pulseiras com botão SOS
São dos mais usados, sobretudo entre idosos, por serem discretos e multifuncionais.
Podem ser colocados na pessoa em causa, não conferindo um constrangimento de ação de vigia, que pode ter efeitos adversos.
- SPC Smartee 4G Senior: smartwatch com GPS, botão SOS, chamadas por 4G, e app de localização.
- Preço: cerca 115 €.
- Pulseira SOS Sygo: resistente à água (IP67), com localização em tempo real, SOS, chamadas.
- Preço: cerca de 55 €.
- Leotec Senior Smart Band 4G: com deteção de quedas, GPS e botão SOS.
- Preço: cerca de 58 €.
Trackers portáteis de bolso
Estes dispositivos são ideais para quem não aceita usar acessórios no pulso. Têm a vantagem de serem pequenos, leves e com boa autonomia.
Claro que a ideia é "disfarçar" a sua colocação. Podem ser colados ao vestuário, inseridos nas palmilhas do calçado, alguns podem ser colocados no cinto das calças, ou noutras formas e configurações, por exemplo, como cartão de crédito que se introduz na carteira, junto com os documentos.
- Localizador GPS GSM Portátil (Worten): envia localização por SMS ou app.
- Preço: cerca de ~15 €.
- Leotec GPS 4G Tracker: leve (44 g), com botão SOS, geofencing e app.
- Preço: cerca de 72 €.
- Mini A8 Tracker: compacto e funcional, com função SOS.
- Preço: cerca de 40 €.
Dispositivos robustos com grande autonomia
Alguns modelos pensados para veículos adaptam-se ao uso pessoal, oferecendo semanas de autonomia.
- Coban Tracker GPS 4G LTE: bateria de longa duração, localização em 5 s, resistente.
- Preço: cerca de 40 €.
- Sinotrack ST‑907L 4G: permite ver a localização ao vivo, definir alertas e zonas seguras.
- Preço: cerca de 30 €.
Como funcionam: app, alertas e zonas seguras
É importante perceber que estes dispositivos funcionam com cartão SIM com dados móveis e SMS ativos. Hoje, com a entrada de mais operadores para o segmento de dados móveis, como a DIGI, por exemplo, está mais fácil e barato a utilização de um cartão de dados dedicado.
Por exemplo, a Digi vende um cartão de dados ilimitados por 7 € mês. Contudo, as pessoas podem sempre, dentro dos pacotes de comunicações da MEO, Vodafone ou da NOS, solicitar à operadora um valor para este tipo de serviço adicionado ao pacote que já pagam.
Estes dispositivos trazem uma aplicação que pode ser instalada pelo cuidador e parametrizados os vários recursos.
Através da aplicação (ou por mensagens), o cuidador pode:
- Localizar a pessoa em tempo real
- Receber alertas quando ela sai de uma zona segura (geofencing)
- Ativar um botão SOS com envio de localização
- Iniciar chamadas (em modelos com microfone/altifalante)
Mas não se pode usar dispositivos como os AirTags ou Samsung SmartTag?
Dispositivos como os Apple AirTag, Samsung SmartTag ou similares não são recomendados para vigilância contínua de pessoas com problemas mentais — e há várias razões técnicas e éticas para isso.
Limitações das AirTags para este uso:
- Não têm GPS nem GSM próprios:
- Dependem da proximidade de dispositivos da mesma marca (iPhones, no caso da AirTag) para enviarem a localização.
- Se a pessoa se afastar para uma zona sem iPhones por perto, deixa de ser possível localizá-la.
- Não funcionam em tempo real:
- O sistema Encontrar (ou Find My) da Apple atualiza a localização apenas quando o sinal é captado por outro iPhone.
- Pode haver atrasos significativos ou falhas na deteção.
- Não permitem chamadas ou alertas SOS:
- O AirTag não pode ser usada para pedir ajuda ou comunicar em caso de emergência.
- Facilmente removíveis ou esquecidas: • Como são pequenas e nem sempre silenciosas, não garantem que a pessoa a mantenha consigo — sobretudo em casos de demência.
- Alertas antivigilância:
- Como referido no ponto anterior, existem "sons de alerta". Os AirTags pode emitir sons e alertas se for detetada a seguir uma pessoa que não seja o proprietário — pensada para evitar vigilância abusiva, o que neste caso é contraproducente.
Muitas destas limitações são idênticas a outros dispositivos similares para Android e iOS.
Apesar de úteis para localizar objetos ou em situações de curto alcance (ex: chaves, carteira, animal de estimação), os AirTags não substituem um dispositivo com GPS + GSM dedicado, como os exemplos que deixamos em cima.
Considerações éticas e legais
O uso destes dispositivos deve respeitar o direito à privacidade. Em casos de incapacidade legal, o responsável poderá autorizar o uso.
Quando possível, é recomendável obter o consentimento informado da pessoa monitorizada.
Conclusão
A tecnologia não substitui o cuidado humano, mas pode ser uma aliada essencial. Seja um relógio, uma pulseira ou um simples tracker de bolso, estas soluções ajudam a proteger quem mais amamos — e a dar tranquilidade a quem cuida.
Existem ainda serviços (com mensalidades) com sistemas de localização, alarme de ausência da zona permitida, alarme de queda, lembretes de toma de medicação, central 24h, alarmes e por aí fora.
Um deles é prestado pela Cruz Vermelha, mas também há várias Misericórdias a prestar esses serviços:
https://www.cruzvermelha.pt/sa%C3%BAde/%C3%A2mbito-nacional/teleassist%C3%AAncia.html