A Persistência do Ouro: Quais os Pilares de uma Reserva de Valor
Uma reserva de valor é um bem, item ou ativo que permite a quem o detém, preservar poder de compra ao longo do tempo. Este conceito está na base de qualquer dinheiro que seja capaz de preservar a energia monetária nele conservada. Por isso, dado que o bem que escolhemos ser a nossa reserva de valor tem imensas implicações na nossa vida e repercussões a longo prazo, não é qualquer item que pode ou deve ser dinheiro.
Uma boa reserva de valor possui certas características específicas que a diferencia de outros bens ou ativos financeiros, permitindo aos indivíduos guardar a riqueza que vão acumulando durante a vida e servir-se dela a qualquer momento, para satisfazer qualquer necessidade ou desejo.
Uma destas características é a durabilidade. A durabilidade de um bem refere-se à sua habilidade de resistir ao teste do tempo, sem sofrer degradação ou perder o seu valor intrínseco. Por outras palavras, qualquer dinheiro que apresente boa durabilidade é capaz de resistir aos efeitos da entropia, que atua sobre todas as coisas.
Por isso, se alguém achou que seria boa ideia utilizar alimentos, como tomates ou couves como dinheiro, aprendeu a lição da pior forma.
De facto, ao longo da história, o ouro tem-se destacado pela sua durabilidade devido às suas impressionantes propriedades físicas. Sendo um metal quimicamente estável, que não corrói, mancha ou apodrece, ainda hoje temos acesso ao ouro que foi extraído da natureza e minerado há milhares de anos.
Esta permanência histórica tornou o ouro parte do dia-a-dia das pessoas e a reserva de valor de eleição durante várias centenas de anos, devido à confiança que foi conquistando ao longo de gerações.
Por outro lado, a durabilidade do dinheiro fiduciário não está assente nas suas propriedades físicas, mas sim na estabilidade da instituição ou autoridade que o imite. Se um governo ou banco central colapsar o dinheiro pode perder todo o seu valor em poucos dias ou semanas, tal como aconteceu em vários países europeus no final da segunda guerra mundial.
Para além disso, a durabilidade do dinheiro governamental está também relacionada com a sua resistência à inflação, ou seja, ao aumento das unidades monetárias em circulação. No caso do ouro, por exemplo, por muita procura que haja as reservas disponíveis nunca aumentam muito num curto espaço de tempo devido à sua escassez e ao custo monetário e energético associado à sua extração. De facto, ao longo dos últimos 70 anos, a inflação anual do ouro nunca excedeu os 3%.
No entanto, no caso do dinheiro fiduciário, não há qualquer custo energético, de recursos ou infraestruturas associado à sua emissão. Os governos podem imitir novos títulos de dívida, que depois são comprados pelo banco central com novo dinheiro criado digitalmente, bastando premir apenas umas teclas no teclado.
Para além da durabilidade, uma boa reserva de valor deve também ser altamente divisível. Esta divisibilidade permite-lhe servir como forma de pagamento em qualquer transação, independentemente da sua magnitude; e comprar tanto uma casa, como uma pastilha elástica. O ouro, por exemplo, não é uma reserva de valor que se destaque pela sua divisibilidade.
Apesar de ser possível derreter e dividir o metal em lingotes mais pequenos, o ouro não oferece divisibilidade suficiente para servir como forma de pagamento em transações mais pequenas. À data de escrita deste artigo, um lingote de 1 grama de ouro vale aproximadamente 91€.
Já o dinheiro fiduciário, foi desenhado de raiz com divisibilidade em mente. As moedas e notas de menor valor permitem realizar micro transações sem qualquer tipo de problema, e adapta-se muito bem às necessidade diárias do comércio, algo que o ouro não consegue fazer.
Ainda assim, o ouro destaca-se pela sua escassez, que é a característica mais importante numa reserva de valor, e que lhe confere a sua capacidade de preservar poder de compra ao longo do tempo. No caso do ouro, esta escassez é garantida pela quantidade finita existente na natureza. Ainda assim, eventos como a California Gold Rush, no século XIX, mostram que descobertas de novos depósitos podem aumentar a oferta e afetar o preço negativamente.
Pelo contrário, as moedas fiduciárias não possuem uma escassez inerente. Como já vimos anteriormente, os bancos centrais têm controlo sob a quantidade de dinheiro em circulação na economia. Esta capacidade de criar dinheiro do nada, encarada por muitos economistas como uma forma de “estimular o crescimento“ conduz à inflação, que destrói o poder de compra de indivíduos, famílias e empresas.
Por isso, a longo prazo, dinheiro governamental não é uma boa forma de armazenar riqueza, já que a sua abundância é artificialmente manipulada.
A portabilidade é outra característica importante de uma boa reserva de valor. É um fator crítico que indica se um determinado bem ou item pode ser utilizado e movido de forma prática. O ouro, por exemplo, não apresenta boa portabilidade, dado que mover grandes quantidades do metal é um processo lento, complicado e, geralmente, involve a intervenção de forças de segurança, que garantem que não é roubado.
Por isso, é que geralmente, bancos e outras instituições financeiras que detêm ouro, não o movem com frequência, e apenas transferem o título de propriedade.
Em contraste, o dinheiro governamental, principalmente na Era Digital em que nos encontramos, é das melhores formas de transmitir valor instantaneamente entre pessoas. De facto, as transferências eletrónicas permitem a movimentação global de fundos monetários com muito maior velocidade.
Mas, esta vantagem, tem alguns pontos negativos, já que grandes transferências, principalmente entre países, enfrentam muito maior escrutínio, atrasos e restrições, que podem levar dias ou semanas a desobstruir. Para além disso, existem países, como a China, que impõe controlos de capital, impedindo a movimentação livre de dinheiro e investimento no estrangeiro.
Uma reserva de valor que seja resistente a interferência externa, tal como confiscação ou restrição de acesso por parte de autoridades, diz-se resistente à censura. Neste domínio, o ouro apresenta pontos fortes, mas também pontos fracos. Por um lado, sendo um bem físico, pode ser escondido ou transferido clandestinamente, o que fornece alguma autonomia ao seu proprietário.
No entanto, está suscetível a ser confiscado em fronteiras ou por ação governamental. Um exemplo disto, é a Ordem Executiva Norte Americana 6102 de 1933, em que o governo do EUA, por ordem do Presidente Franklin D. Roosevelt, proibiu os cidadãos norte-americanos de deter qualquer quantidade de ouro, sob a forma de moedas, lingotes ou certificados, acima de 5 onças (aproximadamente 100 dólares na altura). Tudo isto foi feito sob o pretexto do Emergency Bank Relief Act, na tentativa de “estabilizar“ o sistema bancário.
Neste campo, as moedas governamentais, principalmente sob a forma digital, são ainda menos resistentes à censura, dado que bancos ou governos têm o poder para congelar contas e bloquear transações, limitando assim a liberdade individual. Isto é particularmente mau para pessoas que vivem sob a autoridade de um regime opressivo e que precisam de fugir com a energia monetária que foram armazenado ao longo da vida.
Uma boa reserva de valor deve também ser fungível. Esta característica garante que cada unidade de um determinado bem ou ativo é equivalente a outra da mesma quantidade, o que facilita as trocas comerciais entre pessoas e a confiança nas mesmas.
O ouro é altamente fungível. Desde que a pureza seja igual, uma onça de ouro é igual a qualquer outra onça, independentemente da sua fonte. Por outro lado, no caso do dinheiro fiduciário, apesar de duas notas de 10€ serem iguais entre si, é possível que notas falsas entrem em circulação, o que contribui para a diminuição da confiança no sistema monetário.
Deste modo, percebemos também que uma boa reserva de valor deve ser verificável, ou seja, deve ser fácil e rápido de confirmar a autenticidade do dinheiro. As notas e moedas fiduciárias são facilmente reconhecíveis e incluem funcionalidades anti-falsificação, como por exemplo, hologramas e marcas de água, que atestam facilmente a sua autenticidade.
Ainda assim, criminosos com acesso a tecnologia de ponta podem replicar estas medidas de segurança. No caso do ouro é necessário mais escrutínio e fazer testes para verificar a autenticidade do metal e confirmar que não é um material diferente a fazer-se passar por ouro, como por exemplo, tungsténio revestido a ouro.
Todos estes atributos de uma reserva de valor não se manifestam de forma isolada. Eles interagem e coexistem entre si para determinar a eficácia de um bem ou ativo como reserva de valor. No caso do ouro, a sua escassez, durabilidade e presença histórica reforçam-se mutuamente, fazendo deste metal uma escolha segura para preservar poder de compra ao longo do tempo, apesar da sua falta de portabilidade e divisibilidade.
Por outro lado, o dinheiro fiduciário oferece conveniência e adaptabilidade, apesar de ser suscetível à inflação, devido à falta de escassez intrínseca, e fraca resistência à censura.
No final de contas, uma reserva de valor ou dinheiro não é uma construção social e o ser humano nunca escolhe de forma arbitrária. Escolhe com base em características objetivas que melhores garantias oferecem na manutenção ou aumento do poder de compra. Assim, compreender estas características e atributos permite avaliar com a perspetiva adequada que bens ou ativos são boas reservas de valor.
Referências
"The Bitcoin Standard", por Seifedean Ammous, Wiley, 2018
"The bullish case for Bitcoin", por Vijay Boyapati, 2021
Pedras radioativas > Ouro
E a facilidade de ser trocado, por alguma coisa.
Como se viu, a 2804, quem pode ter 150000 milhões de euros, em criptomoedas, morria de fome, pois nem o telemóvel, de 8000 euros, ou o carro de 500000 euros, permitiam pagar comida.
O problema de guardar valor em Ouro é, basicamente, o seguinte, onde o guardar?
No banco? Pode ser confiscado.
Em casa? Pode ser roubado.
As previsões apontam como certa uma valorização acentuada do Ouro nos próximos anos devido à incerteza geopolítica mundial e ao facto dos Chineses estarem a mandar dólares fora e a comprarem Ouro como se não houvesse amanhã.
O que diz o Perplexity Pro de mais relevante sobre o ouro:
– Nos últimos anos a produção de ouro tem-se mantido estável, entre as 3.500 e as 3.600 toneladas, a que se junta 300 ton de ouro reciclado, (de jóias e de aplicações em produtos industrias). Do total anual (sejam 3.850 ton), com algumas variações em cada ano:
– mais de 66%, mais de 2/3 (> 2.541 ton) vão para joalharia
– 8% a 10% (308 a 385 ton) vão para a indústria
– O restante (entre 20% e 25%) vai para investimento privado (a maior parte) e para reserva dos bancos centrais. É a negociação desta fatia do ouro que mais influencia o preço do ouro. Reparte-se em:
– 12% a 18% (462 a 693 ton) vão para investimento privado (barras, moedas e ETFs)
– 5% a 10% (193 a 385 ton) vão para reservas dos bancos centrais
Então e quais são os países com maiores reservas de ouro:
– Estados Unidos 8.133 ton, Alemanha 3.351 ton, Itália 2.452, França 2.437 ton, Rússia 2.332 ton e China 2.279 ton. Portugal esta na 13ª posição 383 ton, que valem 28 mil milhões de euros
Se quiserem investir em ouro o mais simples é através de ETFs (há vários).
Quanto ao ouro como reserva de valor, convém não esquecer que cerca de 75% (3/4) do ouro extraído anualmente se destina à joalharia e à indústria e 25% é que se destina a investimento e reserva de bancos centrais – e que também pode vir a ser vendido para a joalharia e a indústria. Ou seja, o ouro é reserva de valor, também pela sua utilidade intrínseca – mesmo que deixasse de ser usado como reserva de valor, continuava a ter valor para outros fins.
É só cavar mais fundo e aparece ouro.