Há quanto tempo utilizamos veículos para transportar coisas? Estudo fala em 22 mil anos!
As pegadas contam histórias, mostrando como as pessoas viviam, caçavam e sobreviviam na Terra, há largos anos. De facto, é baseando-se num rasto curioso que um grupo de investigadores aponta que a prova mais antiga de um veículo utilizado para transportar coisas, ou um carrinho de mão, tem 22 mil anos.
A arqueologia tradicional baseia-se na descoberta de ferramentas de pedra e, apesar de a maioria das pessoas de hoje em dia nunca ter feito uma ferramenta deste tipo, quase todas já deixaram uma pegada, um rasto.
No caso dos veículos usados para transporte de coisas, os investigadores Matthew Robert Bennett e Sally Christine Reynolds, professores na Bournemouth University, ressalvam que, atualmente, os trolleys ou carrinhos modernos podem estar abandonadas em qualquer parte, a enferrujar-se durante largos anos.
Contudo, as versões antigas eram provavelmente de madeira e, por isso, apodreceram com o tempo. Ainda assim, os cientistas sabem que a tecnologia de transporte deve ter existido.
Como era feito o transporte das coisas antigamente?
A equipa de investigação da qual fazem parte os dois professores descobriu alguns vestígios fósseis relevantes. Estes foram encontrados ao lado de algumas das mais antigas pegadas humanas conhecidas nas Américas, num local chamado White Sands, no Novo México.
Em White Sands, a equipa de Bennett e Reynolds encontrou marcas de arrastamento deixadas pelas extremidades de varas de madeira enquanto escavavam à procura de pegadas fósseis. Por vezes, estas aparecem como apenas um traço, enquanto noutras ocasiões surgem como dois traços paralelos e equidistantes.
Num artigo, os investigadores explicam que uma ou várias varas usadas desta forma são chamadas de travois. Estas marcas de arrastamento são preservadas em lama seca que foi enterrada por sedimentos e descoberta por uma combinação de erosão e escavação.

Fonte: The Canadian Encyclopedia (2006)
As marcas de arrastamento estendem-se por dezenas de metros antes de desaparecerem sob os sedimentos que as cobrem.
Para interpretar as suas descobertas, a equipa realizou uma série de testes em diferentes locais, como Dorset, no Reino Unido, e na costa do Maine, nos Estados Unidos, utilizando diferentes combinações de varas para recriar travois simples, puxados à mão.
Conforme partilhado, as extremidades das varas arrastadas ao longo da lama truncaram as pegadas da mesma forma que o exemplo fóssil do Novo México.
As caraterísticas nos exemplos fósseis estavam, também, sempre associadas a muitas outras pegadas humanas que se deslocavam numa direção semelhante - muitas das quais, a julgar pelo seu tamanho, feitas por crianças.
Acreditamos que as pegadas e as marcas de arrastamento contam uma história do movimento de recursos na margem desta antiga zona húmida. Os adultos puxavam os travois simples, provavelmente improvisados, enquanto um grupo de crianças seguia ao lado e atrás.
Curiosamente, os povos indígenas com quem a equipa de investigação trabalhou, em White Sands, interpreta as marcas da mesma forma.
Os investigadores não descartam que algumas das marcas tenham sido feitas ao arrastar lenha. No entanto, defendem que isso "não se enquadra em todos os casos".
Os travois são conhecidos através de documentos históricos e relatos de povos indígenas e das suas tradições. Apesar de serem mais frequentemente associados a cães ou cavalos, nos testes da equipa, "foram puxados por humanos".
Como tal, representam os primeiros exemplos de carrinhos de mão, mas sem a roda. O registo mais antigo de um veículo com rodas data da Mesopotâmia (atual Iraque), em 2500 a.C. Pensamos que os travois foram provavelmente improvisados a partir de varas de tendas, lenha e lanças, quando surgiu a necessidade.
Escrevem os investigadores, teorizando que "talvez tenham sido criados para deslocar o acampamento ou, mais provavelmente, para transportar carne de um local de caça".
Parece pouco.